domingo, 29 de julho de 2012

Braille, por um ensino-aprendizado mais consistente e coerente


Na condição de professor do ensino regular, de familiar ou amigo de pessoa com deficiência visual, aprender o Braille se torna essencial para ampliar as possibilidades de interação comunicacional, tornando-os mais independentes no contato com a leitura, registros e expressão por meio da escrita.

O aprendizado do Braille surge, então, como um recurso facilitador que contribui efetivamente para a eliminação da barreira na comunicação escrita e lida por pessoas cegas. Muito embora seja indiscutível os benefícios trazidos pelo aprendizado desse método tátil, atualmente a crescente demanda por recursos tecnológicos e o uso de computadores equipados com leitores de tela e sintetizadores de voz, fez com que o Método Braille fosse visto como menos relevante, principalmente com o argumento de ser um sistema complexo e pouco difundido entre a sociedade em geral. Isso também deve a um ensino sem direcionamento adequado.

O fato é, que se existe um desconhecimento sobre o sistema Braille , deve-se investir esforços para que este código seja mais divulgado e passe a integrar o repertório de conhecimento de todas as pessoas. Na escola, por exemplo, o professor beneficiará o aluno cego ao propor atividades adaptadas em relevo, criando ambientes de aprendizagem que fomentem a equidade em relação aos resultados educativos de todos os alunos, com práticas que facilitem o acesso ao currículo comum. Em casa, o familiar ou amigo que convive com a pessoa cega será provocado a compartilhar das suas experiências e compreender suas produções, oferecendo-lhes oportunidade de contribuir, interagir e fazer as trocas necessárias. É através do incentivo familiar que a pessoa com deficiência visual se sentirá mais segura, pois este constitui o primeiro núcleo social de convívio, interações e aprendizados, seja no aspecto cognitivo, emocional e afetivo. No contexto social temos que o domínio do Braille será útil, por exemplo, no setor comercial de produtos ou serviços, nas relações estabelecidas com as pessoas e na quebra das barreiras que impedem uma plena comunicação e, destas, posso citar cardápios, rótulos, contratos, informativos, folders, placas, entre outros dispositivos que viabilizam o acesso e a permanência da pessoa nos espaços, consumindo informação e interagindo com as pessoas.

O Sistema Braille foi criado pelo francês Louis Braille, jovem cego que dedicou seus esforços pelo bem da humanidade. Nascido em 1809 nas proximidades de Paris, perdeu a visão ainda criança em decorrência de um acidente enquanto brincava na oficina de seu pai. Foi aluno do Instituto Real para Jovens Cegos, primeira escola para cegos no mundo, fundada no ano de 1784, na cidade de Paris, por Valentin Haüy. Louis Braille morreu, aos 43 anos sem que seu sistema fosse reconhecido oficialmente. A expansão e adoção do sistema Braille pelo mundo aconteceu de forma lenta e desordenada. Foi trazido para o Brasil pelo jovem José álvares de Azevedo em 1854, que aqui chegando incentivou a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin constant, localizado na cidade do Rio de Janeiro.

Como braillista e defensora da democratização do código Braille deixo o alerta de que o aprendizado do Braille precisa seguir a orientação de um profissional habilitado, já que demanda um conhecimento específico sobre as técnicas para uso e aplicação deste sistema em diversas situações. São diferentes os procedimentos, técnicas e etapas empregadas para ensinar uma criança cega ou um adulto que perdeu a visão. ainda temos que considerar as peculiaridades das construções simbólicas e conceituais por meios visuais ou táteis e como ocorre esse aprendizado. A leitura tátil, requer das pessoas cegas muito treinamento motor, perceptivo e sensorial. Uma boa percepção tátil é fundamental para identificação das diferentes disposições dos pontos Braille que representam as letras ou símbolos matemáticos, químicos, musicais e outros, existentes na escrita em tinta. As pessoas que enxergam quando aprendem o sistema Braille, muitas vezes, recorrem a desenhos do símbolo para memorizarem o formato de cada letra. Embora façam uso da visão para ler essas figuras coloridas, recheadas de efeitos visuais, esta não constitui a melhor estratégia trabalhada para a assimilação do código. A leitura de imagens serve como um apoio inicial, mas não como único recurso empregado. Assim como nem todo cego usuário de Braille domina as técnicas para o ensino do código, nem todo vidente possui condições para ensiná-lo de maneira a satisfazer Às necessidades do aprendiz. O aprendizado mecânico e sem instruções só reforça a superficialidade do emprego deste sistema em detrimento da qualidade.

Desse modo uma instrução má orientada quanto ao ensino do Braille estaria na contramão das tentativas para a sua democratização, pois supre uma necessidade imediata de aprendizado. Futuramente corremos o risco de que esse aprendizado não seja consolidado e caia no esquecimento ou, ainda, conserve vícios e erros, gerando prejuízos para o processo de inclusão. O fracasso proveniente de um ensino mau direcionado e sem critérios servirá sempre de justificativa para que as pessoas cegas ou com visão fiquem cada vez mais resistentes ao uso e aplicação do Braille no dia-a-dia como fator de inclusão social e acessibilidade. A demanda é crescente e aprender o Braille é uma ação urgente e necessária nos dias de hoje e não podemos deixar que essa conquista seja atropelada por imagens meramente ilustrativas. E nesse caso o aprendiz também é responsável por suas escolhas...

Luciane Maria Molina Barbosa

Lei de Cotas




A chamada Lei de Cotas (Lei 8.213 de 1991) completou nesta terça-feira 21 anos de sua sanção. Mesmo depois de mais de duas décadas em vigor, ainda existe muito preconceito sobre a capacidade produtiva da pessoa com deficiência. A avaliação é do secretário Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoas com Deficiência, Antônio José Ferreira. “Ainda temos muitos desafios. Os maiores são superar, ainda, os preconceitos e o desconhecimento que o empresário têm acerca das potencialidades e da capacidade da pessoa com deficiência”, disse à Agência Brasil.

Atualmente, existem cerca de 306 mil pessoas com deficiência formalmente empregadas no Brasil. Desse total, cerca de 223 mil foram contratadas beneficiadas pela Lei de Cotas. Ela prevê, no Artigo 93, que toda empresa com 100 ou mais funcionários deve destinar de 2% a 5% (dependendo do total de empregados) dos postos de trabalho a pessoas com alguma deficiência.

“Junto com o Ministério do Trabalho, estamos fazendo uma grande campanha de sensibilização dos empresários. Não indo só na questão de aplicar multa, mas também de conscientizar e de capacitar o empresariado. É mais fácil nós adaptarmos as empresas às pessoas, do que as pessoas às empresas”, destacou o secretário. A empresa que desrespeitar a Lei de Cotas e negar oportunidade de trabalho às pessoas com deficiência poderá pagar multa de R$ 1.617,12 a R$161.710,08.

De acordo com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, as 306 mil carteiras de Trabalho assinadas de pessoas com deficiência representam apenas 0,7% do total de empregos formais do país, onde há 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, das quais 29 milhões em idade economicamente ativa.

Segundo o órgão, se todas as empresas do país cumprissem a Lei de Cotas, mais de 900 mil pessoas com deficiência teriam que estar empregadas. “Hoje nós já temos avançado. O governo federal está colocando 150 mil vagas no Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego] a fim de qualificar as pessoas com deficiência para justamente acessar às vagas que a Lei de Cotas tem trazido”, disse Ferreira.