Em poucos dias, toda estrutura escolar estará adormecendo, parecendo que todas as dificuldades foram vencidas e as dores que o ano letivo enfiou goela abaixo dos pais dos alunos dotados de deficiências, serão esquecidas embora atravessadas na garganta, com base na ineficiência do estado que dificulta o cumprimento das leis da sua própria criação.
Neste já em agonia, se repetiram os rituais dos anos anteriores, que depois de tanto pedir, reclamar, apelar, estar à beira da humilhação, litigando até em nível de justiça municipal, estadual e instância superior, para que a filha autista fosse recebida em Classe Regular do ensino Regular ou à Classe Especial do Ensino Regular ou ainda à Escola Especializada, a mãe recebeu da Secretaria de Educação, uma cópia do documento do Ministério Público, determinando que a aluna seja alocada à Classe Regular de Ensino Regular além do acompanhamento de professores treinados para lidar com alunos especiais, com o natural descaso, ou seja, dois meses depois do despacho.
Para quem lutou tanto, a revolta e o tamanho da mágoa no coração em relação a demora, descaso, omissão e o desrespeito com os pais, nem se põe em conta do prejuízo imenso que teve a sua filha e aluna autista por mais um ano perdido, mas sim, o estarrecimento por descobrirem que a própria escola em que está matriculada, omitiu sua inscrição no fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino básico, deixando falhas na matrícula do ensino regular, negligenciando o fato, por julgar que o Ministério Público negasse um posicionamento favorável à inclusão da dela.
Sacrificaram minha filha, conta a mãe entristecida, pois a escola a segregou em classe distinta, inclusive com o apoio de núcleos regionais de ensino que em sintonia nada fazem pela inclusão de alunos deficientes, além de resistirem à reciclagem da sua própria profissão, embora não perdendo oportunidades para ofender, ameaçar, fazer suposições e chantagear por desdém levantando dúvidas sobre o comportamento dos pais e irmãos em relação à pessoa autista.
Quem pagará, ou compensará os anos que uma aluna autista perdeu deixando de receber a oportunidade de evoluir e ainda absorver os preceitos que as leis prevêem, pergunta a mãe desesperada pela negligência dos responsáveis pela escola e seus imediatamente superiores da secretaria de educação, propositalmente para ganharem tempo e assim continuarem não fazendo nada a respeito da inclusão escolar, mas mantendo o domínio de interesses típicos de currais políticos.
Perguntaram a mãe na secretaria de educação qual seria o documento que ela desejaria receber para a conclusão do ensino na escola?
O boletim e um relatório psicopedagógico de cada professora envolvida com a aprendizagem da aluna, para que ela possa continuar estudando e seguindo adiante no método da inclusão, agora por determinação de Justiça.
Aí todos ficaram boquiabertos, pois foi possível sentir um ar de preocupação na secretaria quando a mãe afirmou que sua filha autista vai continuar estudando e aprendendo, mesmo com as dificuldades que eventualmente enfrentará... Possivelmente por estarem chegando à conclusão que os pais dela sempre tiveram e tem razão.
Um dos problemas da educação inclusiva não são os autistas, falamos. São os educadores que despreparados, e isto não se pode generalizar, até por falta de recursos que o próprio estado não lhes concede, mas nem por isso ela vai pendurar o despacho do Ministério Público por seu Promotor de Justiça, num quadro da sala vibrando pela vitória cada vez que passa na sua frente.
Novos casos de alunos autistas estão aí e surgindo a todo instante... A mãe da nossa história espera que mais nenhum pai de autista tenha que acionar a justiça e ainda trilhar mesmo caminho doloroso que ela e seu marido trilharam e ainda ouvindo absurdos que beiravam a desumanidade.
Ela lamenta profundamente que os integrantes daquela escola tivessem um comportamento tão reprovável e se penitencia por ter deixado sua filha perder tanto tempo lá, mesmo considerando a situação que prevalece principalmente em pequenas e médias cidades do interior de um estado.
Evidentemente que os integrantes da escola tentaram melosamente contornar a fúria daquela mãe, passando mal pela imensa carga mista de revolta e emoção presa no seu coração, que ao ser liberada, mesmo assim o desabafo não lhe deixou feliz pelo alto preço que lhe custou.
A mãe da aluna autista não encara o despacho do Ministério Público determinando a inclusão da sua filha, aluna autista, na Classe Regular do Ensino Regular como uma vitória depois de uma boa briga, mas sim como uma aprendizagem que jamais será esquecida por todos que dela participaram inclusive os céticos.
São experiências para serem divididas.
Para os alunos deficientes, autistas ou não, que estejam enfrentando as mesmas situações, ela deseja melhor sorte para serem incluídos no sistema inclusivo, e principalmente que sejam amparados pelas leis que regem a Educação sem passar por tantas agruras que ela e sua família passaram.
Cada ano, as requisições de histórico escolar dos alunos para matriculas normais a transferência entre escolas são mais frequentes. Para pessoas com deficiência, autistas ou não, principalmente a falta de organização e conhecimento de síndromes em escolas pode complicar pedidos para inclusão.
Procure manter a documentação, laudos, atestados, certificações e acervo em ordem, bem como seus itens essenciais para evitar dissabores e danos, às vezes irreparáveis.
Abençoada sejas, mãe, por esta lição de amor que nos dá.