Temos de saber andar no fio da navalha, assegurando o direito à igualdade quando as diferenças inferiorizam nossos alunos e assegurar o direito à diferença quando a igualdade os descaracteriza. Isso é muito diferente de tratar igualmente os iguais e desigualmente os diferentes.Trata-se de uma máxima importantíssima que se aplica não só à escola, como a qualquer agrupamento humano. Ela sustenta inúmeras ações que estão sendo desenvolvidas internacionalmente em favor do direito das pessoas a serem diferentes e do direito à igualdade quando há necessidade que essas pessoas sejam protegidas de qualquer ação discriminatória que possa inferiorizá-las.
Como professores que somos, é fundamental que adotemos essa máxima ao pensarmos em nosso projeto pedagógico, na gestão da escola, quando selecionamos as atividades que vamos desenvolver com nossos alunos nas salas de aulas, nas formas de avaliar o aproveitamento escolar. É preciso que se tenha muito claro que tanto o direito à igualdade quanto à diferença devem estar presentes, daí aprendermos a andar no fio da navalha, ou seja, equilibrando-nos entre a igualdade e a diferença, porque há momentos em que a igualdade tem que ser considerada e em outros que a diferença precisa ser vista e atendida, mas sem inferiorizações e discriminação. Não é fácil conseguir esse equilíbrio na escola, hoje, Acompanho o movimento em favor de uma escola para todos, da inclusão na sociedade e na educação desde os seus primeiros tempos. É no cotidiano escolar, dentro da sala de aula que percebemos todos esses movimentos e que podemos entender bem o que significa a consideração de igualdade e das diferenças dentro de um projeto educacional inclusivo. Caminhamos muito devagar, nessa direção.
Sinto que os pais, professores, gestores têm muita dificuldade para entender a legislação em vigor, que favorece a inclusão, pois há documentos que divergem, que se contradizem no modo de expressar o que significa uma escola para todos. Parece que eles têm a intenção de, por um lado, enfatizar a importância da escola para todos e considerar as diferenças não como alguma coisa que diminui, inferioriza, mas alguma coisa que tem ser considerada, um benefício para o próprio desenvolvimento da escola, e, por outro lado, existe muita dificuldade desses mesmos documentos compatibilizarem esses propósitos com práticas de ensino que dêem conta de operacionalizar, na sala de aula, os princípios da inclusão escolar.
Tanto isso é verdade que levamos um bom tempo para redigir um documento de apoio aos professores e pais e igualmente dirigido aos promotores, procuradores e juizes para que pudessem ter um acervo de contribuições no momento de pensar sobre um caso de exclusão escolar e entender melhor uma reivindicação, tomar uma atitude, julgar uma situação. Esse documento que já tem mais de três anos e foi pouco discutido na sua verdadeira essência. Ele garante igualdade, quando a diferença inferioriza e assegura a diferença, quando a igualdade descaracteriza os alunos em geral. Trata-se da cartilha “Acesso de alunos com deficiência nas classes e escolas comuns de ensino regular” www.prsp.mps.gov.br. A esse documento seguiram-se diretrizes e portarias governamentais, que contradiziam e de certa forma neutralizavam todos os desafios e desequilíbrios postos pela tarefa de educar a todos, como a inclusão propõe. Tivemos um período muito difícil nos primórdios da inclusão porque havia um descompasso grande entre o que se entendia como fundamentos de uma escola para todos, e o que se entende ainda como escola comum com programas compensatórios para alguns alunos, escolas especiais segregadas para alunos com deficiência.
Idéias que combatemos hoje, tais como “esse menino é pobre, de família desajustada, vai para escola e precisa ser submetido a programas compensatórios” têm origem no entendimento de que é preciso assimilar a cultura dominante, ou seja, um acervo de conhecimentos que todos devem ter, porque é imprescindível para “subir na vida”, ter sucesso na profissão etc. A seleção de alguns conhecimentos que seriam os dominantes e a idéia de que o conhecimento científico é o único que dá conta das explicações e soluções dos problemas do mundo de hoje, isso tudo precisa mudar. A ciência evoluiu. Antes achávamos que uma pessoa com Síndrome de Down não aprenderia a ler e, porque nós determinávamos isso, nada mais tínhamos a fazer por esses alunos, nas escolas comuns e especiais! .
Fonte:Maria Teresa Eglér Mantoan
"O Mestre na arte da vida faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu lazer, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a sua religião. Ele dificilmente sabe distinguir um corpo do outro. Ele simplesmente persegue sua visão de excelência em tudo que faz, deixando para os outros a decisão de saber se está trabalhando ou se divertindo. Ele acha que está sempre fazendo as duas coisas simultaneamente." Zen-Budista
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