sexta-feira, 25 de março de 2011

Filmes educam?


Assistindo a um filme, aprendemos a ver o mundo de outra forma. Na tela do cinema ou da TV, a história é contada não apenas por meio de palavras, mas também por imagens, sons e outros recursos que às vezes nem são percebidos conscientemente pelo espectador, mas que estão ali, colaborando para despertar emoções. Sentados diante de uma aventura, um romance ou uma comédia, exercitamos mais os sentidos do que imaginamos.
"Essa arte deve ser apresentada aos estudantes não apenas como forma de transmitir um determinado conteúdo, mas como um estudo de uma linguagem diferente da verbal", diz Carmen Zink Bolonhini, coordenadora do projeto "Do cinema à leitura: o funcionamento de diferentes formas de linguagem", do Departamento de Linguística da Unicamp. "No cinema, o verbal combina-se com o visual e, nessa perspectiva, muitos elementos podem servir de suporte para a produção da narrativa, como as cores usadas, o vestuário das personagens, a velocidade das cenas, a música etc. Descobrir esses elementos e analisá-los faz com que os jovens aprendam a ler outra linguagem".
"O cinema desloca nosso olhar e oferece outra perspectiva, além das que nos são transmitidas pela família, pela escola e por outras mídias", explica André Costa, cineasta e educador em artes visuais. "Ver um filme é uma experiência estética, e o que é educar senão experimentar?", completa ele, que dá aulas de cinema na Faap e é um dos sócios da Olhar Periférico Filmes.
Um filme, portanto, está longe de ser apenas uma história. A forma, nesse caso, está acima do conteúdo. Por isso, um dos exercícios sugeridos para a sala de aula pela professora Carmen Zink Bolonhini é o de congelar uma cena e analisar com os alunos todos os elementos que ali se encontram e que papel eles desempenham para que a mensagem desejada pelos produtores seja passada. "Analisando qualitativamente os símbolos usados, as crianças aprendem a ler outras formas de linguagem", justifica Carmen Zink Bolonhini.
Este tipo de exercício também pode ser realizado em casa. E nem é preciso congelar a cena. Basta ligar o olhar crítico e entrar na brincadeira. "Os filmes também são feitos com base em preconceitos sensoriais, e localizá-los pode ser um exercício analítico muito educativo", sugere Carmen, que é uma das autoras dos livros "Discurso e Ensino - o Cinema na Sala de Aula" e "Quem é o Rei no Rei Leão?", nos quais orienta o questionamento de alguns símbolos ultradisseminados. Por exemplo: o mal se veste com cores escuras, enquanto heroínas perambulam com vestidos rodados e de tons claros - por quê? E o que dizer da música, que fica mais alta e retumbante quando o filme quer passar a sensação de suspense? Tambores despertam medo, enquanto o som de cordas acalma e cria uma atmosfera romântica. Aliás, você já experimentou assistir a um filme de terror sem o som? A experiência muda completamente.
Como existem filmes e filmes, esse exercício pode variar em grau de dificuldade. Os mais artísticos tendem a driblar esses preconceitos sensoriais, propondo uma forma ainda mais inovadora de interpretar a realidade. Os mais comerciais costumam seguir a trilha já traçada e, portanto, mais óbvia. Isso não significa, porém, que apenas clássicos e aclamados pela crítica ofereçam uma vivência interessante. "Pode-se dizer até que, quanto mais prazerosa for a relação com o filme, mais educativo ele fica. Pois só quando nos envolvemos de fato e assistimos com gosto que despertamos os nossos sentidos e até um real senso crítico", argumenta o cineasta André Costa, lembrando ainda que um filme pode servir de pretexto para o aprendizado de conteúdos, como a obra de um artista plástico ou o enredo de um livro, por exemplo. Afinal, quem nunca teve vontade de ler um livro após ver um filme baseado nele?
Assim, a educação promovida pelos filmes extrapola as paredes do cinema. E ainda aproxima as pessoas. Como? Basta pensar nas vezes em que saímos da sala de cinema loucos para comentar. O papo após a sessão pode até dominar o jantar ou o café da manhã do dia seguinte. Como ressalta o cineasta André Costa: "Os filmes servem de base para trocas afetivas entre as pessoas". Entre pais e filhos, essa pode ser uma experiência ainda mais valiosa. Não hesite em tirar proveito dela.

Educando com o cinema
Antes, durante e depois de ver um filme, explore-o com seu filho:
1)A escolha Antes, pergunte a ele o que gostaria de ver, ou o que ele espera de um determinado filme. Assim ele começa a estruturar opiniões e expectativas.
2)A observação Durante o filme, se estiver em casa, faça comentários sobre o que está sendo visto e ouvido, enfatizando que a história não está sendo contada apenas com palavras. Comente roupas de personagens e sua caracterização e chame a atenção de seu filho para a música, para os cenários e os momentos de silêncio.
3)A absorção Ao acabar o filme, dê um tempo para que as impressões sejam absorvidas e, depois, procure conversar com o seu filho sobre o que viram. O que ele achou? Gostou das personagens? Achou as paisagens mostradas bonitas? Compartilhe também a sua opinião.
4) O questionamento Ainda nessa conversa, incentive seu filho a imaginar quem está por trás daquela criação. Uma animação, por exemplo, é criada por muitos artistas gráficos. Como o computador pode ter sido usado em tudo isso? Essa percepção abre os horizontes da criança e não a deixa alienada diante de um produto pronto. Mas, claro, tome cuidado para não exagerar nos questionamentos. A conversa tem de ser espontânea.
4) A pesquisa Muitos filmes despertam curiosidades na gente a respeito de lugares, pessoas e períodos da História. Não deixe a curiosidade esfriar e pesquise com seu filho não muito tempo após a sessão. Comece pela internet ou livros que tiver em casa. Quem sabe assim vocês não descobrem uma nova paixão
6) O repertório Uma das melhores formas de aumentar o repertório de filmes é seguir um caminho que faça sentido. Assim você se aprofunda na obra de um diretor, ou em filmes sobre um período histórico, ou em animações de um estúdio. Em época de obsessão pelas princesas da Disney, por exemplo, você pode assistir com as meninas a cada um dos desenhos com princesas, partindo de "Branca de Neve e os Sete Anões". Mas não deixe a experiência superficial. Alfinete-as um pouco, fazendo com que percebam as diferenças nos traços, na concepção dos desenhos e na própria temática. "As princesas foram ficando menos passivas com o tempo, não é verdade?", e assim por diante.|
7) O complemento Uma das melhores formas de aumentar o repertório de filmes é seguir um caminho que faça sentido. Assim você se aprofunda na obra de um diretor, ou em filmes sobre um período histórico, ou em animações de um estúdio. Em época de obsessão pelas princesas da Disney, por exemplo, você pode assistir com as meninas a cada um dos desenhos com princesas, partindo de "Branca de Neve e os Sete Anões". Mas não deixe a experiência superficial. Alfinete-as um pouco, fazendo com que percebam as diferenças nos traços, na concepção dos desenhos e na própria temática. "As princesas foram ficando menos passivas com o tempo, não é verdade?", e assim por diante.
8) A emoçãoDivirta-se com seu filho! Ria e chore diante da tela. Compartilhar sensações e estreitar os vínculos fazem parte de outro tipo de educação - a emocional.



Fonte
Site: http://educarparacrescer.abril.com.br/

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