sexta-feira, 15 de abril de 2011

MANUAL DE ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE PARA DEF. VISUAIS


Manual de Orientação e Mobilidade
SYLAS FERNANDES MACIEL
O “IR E VIR” DO DEFICIENTE VISUAL

(PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS).
SÃO PAULO

2003
SUMÁRIO
- Apresentação 03
I - Introdução 04
II - Fundamentos teóricos 05
III - Prática de ensino 25
IV- Avaliação 63
V - Referências bibliográficas 68

APRESENTAÇÃO
A publicação deste trabalho visa levar subsídios para o trabalho diário do professor com educandos portadores de deficiência visual - cegos e visão subnormal.
A “Orientação e Mobilidade” é parte integrante dos conteúdos curriculares das séries iniciais do l.o grau e da pré-escola para os portadores de deficiência visual. É através dela que o educando cego adquire a capacidade de locomover-se e orientar-se nos diversos espaços - escola, lar, comunidade. Ao dominar estes espaços e sentir-se neles inserido com independência e naturalidade, o educando adquire maior autoconfiança, grande domínio pessoal e melhora a sua auto-estima por exercitar um direito fundamental do cidadão, qual seja, o “direito de ir e vir”.
As técnicas de “Orientação e Mobilidade” devem ser de conhecimento não só do professor regente, do professor itinerante, do professor da sala de recursos e de outros profissionais, como também dos pais e familiares em geral, para facilitar a inserção social do portador de deficiência visual.
Ao elaborar este manual pretende-se passar de forma didática os conhecimentos básicos para auxiliar o aluno portador de deficiência visual a descobrir e conhecer o mundo.
Cabe ao leitor dominar este conhecimento e enriquecê-lo com as vivências do cotidiano, de tal forma que as técnicas e procedimentos tenham real significado para quem ensina e utilidade para quem usa.
I - INTRODUÇÃO
É escasso o material teórico escrito disponível sobre orientação espacial e técnicas de locomotividade para cegos. Além disso, atualmente, são inexpressivas as oportunidades face à necessidade de treinamento de pessoal técnico para atuar nesta área. Os profissionais existentes se encontram absorvidos pela demanda da prestação de serviço, tanto a nível institucional, quanto pelo atendimento particular. Em conseqüência disso, não tem sido produzido material técnico baseado na nossa realidade social que em nada se assemelha àquela dos países desenvolvidos.
À vista da situação acima descrita, procurou-se adaptar alguma literatura técnica estrangeira, mesclando-a com observações retidas da longa atuação profissional nas condições as mais diversas, quer com referência ao elemento humano, quer com relação às condições ambientais - físicas e culturais.
É propósito do autor colocar ao alcance de todos que se interessem pelo assunto e militam nessa área, informações e procedimentos que facilitem o trabalho diário de ministrar treinamento de locomotividade às pessoas deficientes visuais.
O significado da produção deste material se faz mais relevante ao atentar-se para o fato de que as técnicas desenvolvidas pelo Dr. Richard Hoover se destinaram, basicamente, aos portadores de cegueira adquirida na vida adulta, com o esquema corporal desenvolvido em condições normais, o que favorece, sobremaneira, a formação e domínio dos conceitos de espaço e tempo, fundamentais para o êxito na orientação espacial e locomoção independente.
Outro aspecto de real importância para ser considerado nesta linha de pensamento é o fato de grande número de cegos europeus e norte-americanos ser constituído por veteranos de guerra. Esta condição privilegia o relacionamento e posição social deles diante do público.
A situação social do deficiente visual no Brasil nada tem em comum com o quadro anteriormente descrito. A cegueira entre nós, não se constitui em ônus de guerra e os deficientes visuais, em sua maioria, são portadores de cegueira congênita ou adquirida ainda na primeira infância. Isto retrata uma situação socioeconômica desprivilegiada tanto em relação às condições natais e de nutrição, quanto com referência às facilidades de acesso ao tratamento médico adequado e oportuno. Por isso, o significado social da cegueira, no Brasil, é altamente negativo tanto para o público quanto para o seu portador. Assim sendo, o instrutor de locomotividade para deficientes visuais deverá levar em consideração tais aspectos ao planejar suas aulas, reservando espaço de tempo e ensejando numerosas oportunidades para o relacionamento social da pessoa cega com o público em geral, antes de considerá-la apta e dispensada de orientação neste sentido.
II - FUNDAMENTOS TEÓRICOS
1 - A PROBLEMÁTICA DA CEGUEIRA
A media da competência do indivíduo pela sua perfeição anatômica é um conceito tradicional e traz, como conseqüência, a idéia de que as pessoas portadoras de moléstias crônicas ou mutilações em qualquer dos seus segmentos corporais, são social e profissionalmente inválidas.
A concepção atual sobre o incapacitado físico e/ou sensorial, baseia-se no seu aproveitamento social através das suas capacidades remanescentes.
Diversos são os tipos de incapacidade, escalonando-se de muito leves a muito graves, conforme o grau de limitação que impõem ao seu portador. A cegueira, seqüela de uma doença ocular, acidente ou má formação congênita, pelas limitações que acarreta aos seus portadores, está enquadrada entre as incapacidade senhoriais graves.
Entendem alguns que a cegueira significa apenas a perda total da visão, isto é, a acuidade visual nula. Essa conceituação não é completa, pois, não se pode considerar vidente uma pessoa com apenas percepção luminosa, ou mesmo de vultos. Uma definição de cegueira faz-se necessária para o adequado atendimento das necessidade individuais dos seus portadores.
Como as limitações visuais apresentam-se em graus os mais variados e, algumas delas podem ser vencidas Por tratamento médico, a definição de cegueira deve ser em termos oftalmológicos. Assim, “há cegueira quando a acuidade visual central é de 20/200, ou menos, no melhor olho, após a melhor correção, ou ainda, quando o campo visual está limitado a 20 graus. Esta é uma definição adotada pela Associação Pan-Americana Americana de Oftalmologia e utilizada pelos serviços de educação especial e de reabilitação em nosso país. Considera-se portador de visão subnormal o indivíduo cuja acuidade visual está entre 20/200 (0,1) e 18/60 (0,3), no melhor olho, após a melhor correção.
A cegueira origina diversos problemas e, para a compreensão da situação do seu portador é necessário conhecer os prejuízos que ela ocasiona. O sentimento de perda da integridade física é um dos primeiros que aparece quando alguém é privado da visão. O indivíduo perde a consciência do todo corporal, do controle de si mesmo, sentindo-se isolado e sob forte sensação de morte. Muitas vezes sente-se aleijado, especialmente quando é obrigado a enuclear o olho. Ligado ao sentimento de não ser mais completo fisicamente, sente-se castrado e inseguro quanto a sua sexualidade.
Como a visão represente papel predominante no contato da pessoa com o mundo exterior, sua perda conduz ao descrédito nas informações dos sentidos restantes. Isto vem contradizer a opinião corrente de que, ao ficar cego, o indivíduo adquire melhor acuidade nos outros sentidos. O que ocorre é apenas maior eficiência deles através de melhor e intensa utilização. Se existia algum déficit na acuidade sensorial, o indivíduo falhará nas áreas a elas relacionadas. Disto decorre a necessidade de serem testados os sentidos remanescentes para que possam ser treinados a um uso adequado.
A idéia de que a perda da visão ocasiona a perda do equilíbrio não é correta, pois, este se encontra na dependência da sensibilidade vestibular e, se esta não estiver afetada, não haverá razão para isto.
A perda da perspectiva visual, da possibilidade de percepção do todo, dos objetos em movimento, ocasiona também dificuldades de contato com o meio ambiente. Além disso, a cegueira ocasiona outras perdas, como a impossibilidade de locomoção independente, visto que a pessoa cega, ao andar, deverá encontrar muitos obstáculos. As atividades da vida diária são também seriamente prejudicadas, principalmente nas áreas de asseio e de aparência pessoal (encostar-se em coisas sujas, pingar líquidos na roupa, escolher o vestuário).
No campo da comunicação há dificuldade na utilização da linguagem escrita e maior dificuldade ainda em chegar às fontes usuais de informações. Ocorrerá também falta de consciência do cenário social, o que lhe impossibilita o controle completo da situação. Torna-se também impossível ao cego a observação das coisas que somente podem ser percebidas visualmente, ressaltando-se aqui a perda da apreciação visual do belo.
Com referência ao emprego, o portador de cegueira vê-se, geralmente, obrigado a mudar de atividade, pois, a que ocupava, exigia controle visual; o mesmo se verifica com relação aos planos profissionais, porque se modificam as suas oportunidades para o trabalho. Tudo isso lhe dá um sentimento de inutilidade e a sensação de ser um elemento improdutivo. Esta situação é agravada pelo desequilíbrio econômico que advém na maioria dos casos, da procura da recuperação visual a qualquer preço, provocando a perda da segurança financeira.
De todos os prejuízos apontados, o da independência pessoal é um dos mais significativos. Para o público em geral, “o pobre cego” é o símbolo da dependência. E ele, conformando-se com isso, concorre para o aumento desta dependência. Duas forças atuam nos seres humanos: o desejo de independência com sua liberdade e o desejo de dependência com sua proteção. A verdadeira independência resulta do equilíbrio destas duas forças.
A adequação social do indivíduo cego é prejudicada pelas suas dificuldades próprias de funcionamento e pelo impacto da atitude da sociedade sobre ele, sentindo-se pouco aceito, como se houvesse perdido o seu lugar na comunidade. De fato, muitos videntes mostram-se abertamente pouco à vontade na companhia de uma pessoa cega, evitando o seu contato. Alguns tentam compensar estes sentimentos por expressões de admiração, mas traem-se mostrando pena. Outros ainda dispensam-lhe excessivos cuidados, colocando-se até mesmo em situação difícil. O relacionamento social normal com a pessoa cega é raro ser encontrado. Essas atitudes das pessoas videntes reforçam os sentimentos de inadequação anteriormente apontados. Esta mesma situação se repete no círculo familiar onde, na maioria das vezes, o cego perde o seu papel de provedor para o de dependente. O indivíduo desenvolve então uma sensação de perda da estima do seu círculo social, acompanhada da subestimarão de si mesmo. Não podemos esquecer, ao tratar da adequação social da pessoa cega, a perda do direito de ser anônimo, de passar despercebido dentro de um grupo e de manter a sua própria intimidade.
Cada pessoa possui uma estrutura de personalidade e sentimentos preexistentes referentes à cegueira, que irão determinar sua atitude ao enfrentar a condição de cego.
Os prejuízos apontados referem-se ao trauma ocasionado às pessoas videntes que perdem a visão. Entretanto, muitos deles estão presentes nos casos de cegueira congênita, quando as pessoas não tiveram a oportunidade de esclarecimentos precisos sobre a sua condição e orientação adequada e individualizada.
Analisando todos os prejuízos causados pela cegueira pode-se compreender que esses múltiplos traumas levam o indivíduo à desorganização da personalidade.
A reorganização da personalidade dentro de novos padrões é o período que se segue à tomada de consciência da nova situação. Durante esse período o indivíduo luta com sentimentos de revolta, ansiedade e hostilidade. Geralmente, esta luta é muito penosa porque a pessoa não se encontra preparada para tal esforço e ainda sofre o impacto do conceito de cegueira já estabelecido, que exerce sobre ela uma pressão poderosa.
Não se pode empreender um estudo completo sobre o ajustamento da pessoa cega, sua integração à sociedade a qual pertence, sem considerar o relevante papel dessa mesma comunidade em relação ao indivíduo, os padrões de comportamento por ela sancionados e o grau de expectativa social em relação ao portador de cegueira.
Deve-se lembrar que a maneira pela qual uma pessoa se comporta, é apenas parcialmente improvisada, pois, há um amplo conjunto de regras e procedimentos que condicionam o comportamento humano, em toda e qualquer situação. Como a cegueira não é comum, as regras norteadoras do comportamento tornam-se ambíguas e confusas, dificultando à pessoa cega o desempenho de seus vários papeis sociais. O fato de ser cego tende a tornar-se o papel predominante, obscurecendo todos os outros. Nos sistemas sociais complexos das sociedades industriais, onde uma pessoa geralmente desempenha uma variedade de papeis, o deficiente visual é confinando a um papel unitário, o de cego.
Apesar da cegueira ser relativamente pouco freqüente, e da maioria das pessoas ter pouca experiência neste setor, isto não evita que elas tenham alguma noção acerca das pessoas cegas e seus atributos. Há opiniões sobre a cegueira culturalmente determinadas e partilhadas por grande parte da comunidade. São essas concepções que orientam a maneira pela qual as pessoas videntes entram em contato com as que são cegas. Esses estereótipos referentes à cegueira estão baseados no tipo de tratamento dispensado a estas últimas, desde a Antigüidade.
A evolução das atitudes sociais em relação ao cego e aos deficientes em geral pode ser considerada de acordo com o seguinte esquema: a) eliminação física desses elementos que não eram considerados de utilidade para o bem comum; b) amparo da sociedade às pessoas cegas que eram consideradas como seres passivos, receptores da caridade pública; c) oportunidade de educação adequada e de reabilitação, possibilitando ao indivíduo enfrentar, com seus próprios meios, a luta pela sobrevivência e contribuir como membro ativo da comunidade à qual pertence. Esta posição, baseada na filosofia democrática e na organicidade dos vários grupos sociais, leva em conta, não apenas a existência da limitação visual, mas, principalmente a existência de uma série de outras capacidades e recursos dos quais o ser humano não ficou destituído pela perda da visão. Muitas vezes, entretanto, essa posição é apenas uma atitude teórica, não vivenciada pelos membros da comunidade que a afirmam. Considerando realisticamente a posição da pessoa cega na sociedade, observa-se que ela se encontra isolada. Ainda que constituindo sua responsabilidade e preocupação, a sociedade tem sido incapaz de assimilá-la.
Em contraposição à atitude de algumas sociedades da Antigüidade que eliminavam as pessoas portadoras de deficiência, o direito de sobrevivência física lhes é concedido, não lhes sendo reconhecido, todavia, o direito de sobrevivência social: há uma eliminação simbólica, pois, essas pessoas não vivem como membros participantes da sociedade. As medidas tradicionais ainda empregadas para a solução dos problemas das pessoas cegas, vêm colaborar para o seu isolamento em grupos segregados e superprotegidos. Assim mantém-se o estatus quo do “ceguinho” sustentado através de esmolas individuais e às instituições que o abrigam. A maioria dos programas organizados para atender ao problema quer particular, quer governamentais, ainda obedece a estes esquema predominante.
A comunidade não dispõe de recursos suficientes para o atendimento adequado e satisfatório das necessidades das pessoas cegas, quais sejam: alojamento digno, reabilitação, educação e emprego, de acordo com suas habilitações. Poucos são os deficientes visuais que conseguiram independência e trabalho compatível às suas reais capacidades. A maioria dos cegos ainda vive em instituições que se mantêm de esmolas obtidas através de vários artifícios, o que reforça a figura do cego esmoler dependente e conformado. Além da figura física, o estereótipo traz também, uma série de valores integrantes desta concepção, que determina a maneira pela qual as pessoas videntes reagem às cegas. Estes valores observam-se serem diferentes dos que são aplicados à maioria das pessoas, o que coloca o cego numa situação muito especial. Ele é avaliado do ponto de vista sentimental, recebendo assim, sanções especiais e sendo, em geral, colocado numa posição de dependência reforçada e mesmo de inferioridade.
Os deficientes visuais partilham de experiências comuns e, as respostas dadas a essas vivências revelam o impacto do estereótipo. Embora tais respostas nem sempre sejam de conformismo, as atitudes que revelam independência não são suficientes para destruir o estereótipo. Até as atividades rotineiras, quando realizadas por cegos, podem ser consideradas pelos videntes como realizações brilhantes. Há uma tendência a exagerar qualquer habilidade normal por parte de indivíduos cegos, considerando-os possuidores de talentos e habilidades excepcionais. O “cego gênio” é também parte das tradições populares.
As atitudes dos videntes com relação aos cegos influenciam estes, profundamente, na sua tentativa de competir com o ambiente. É fácil verificar como uma pessoa, diante de qualquer situação, reage de acordo com a idéia estereotipada que formou da mesma e de acordo com a expectativa que o grupo tem a seu respeito. Assim, muitas das atitudes individuais e mecanismos desenvolvidos pela pessoa ao enfrentar a situação de cegueira, estão pautados por padrões aceitos e desenvolvidos pela comunidade cuja influência recebeu e, pela concepção que ele próprio formou sobre a deficiência. As várias expectativas que as pessoas têm sobre a cegueira, desempenham um papel significativo na formação de sua auto-imagem e auto-avaliação. Isto não significa que as pessoas cegas tenham um comportamento padronizado, pois, há diferenças importantes nos comportamentos de cada uma delas, resultantes das disposições psicológicas específicas de cada uma e também determinadas pelas situações sociais em que se encontram inseridas. No estudo do ajustamento da pessoa à cegueira, deve-se ainda considerar a classe social, sexo, idade, grupo étnico e religião a que pertence. Essas variáveis influenciam as formas de adaptação à cegueira.
Desta análise da cegueira, conclui-se que ela resulta em grande privação social. Por isso mesmo, há vários cegos que se recusam a identificar-se como tal. Não aceitam as definições que caracterizam esta deficiência na sociedade em que vivem e procuram sua identificação, não através do conjunto de utilidades e valores ligados à cegueira, mas, através de outros atributos que os localizam como membros da sociedade em geral.
Observa-se, por outro lado, que as pessoas cegas em internação prolongada ou definitiva em obras sociais ou grupos voluntários, têm a tendência a desenvolverem uma identificação que as coloca à parte da comunidade, sendo esta tendência responsável pela mentalidade segregacionista.
Essa tendência é mais forte nas pessoas portadoras de cegueira congênita que naquelas que perderam a visão com uma certa idade, o que lhe permite manter sua identificação social pré-cegueira.
Para melhora compreender os problemas apresentados pelos cegos e ajudá-los, é essencial aquilatar como as pessoas que lhes são importantes os influenciam. A família fornece um estreito entrelaçamento de influência interpessoal que afeta aquilo que a deficiência passa a significar para a pessoa cega. Embora a família tenha papel relevante na infância do indivíduo cego, chegando mesmo a constituir para este “a chave do mundo”, sua influência é também relevante nas demais fases da vida, porque o indivíduo tende a tornar-se aquilo que as pessoas que o cercam esperam dele.
As atitudes dos familiares em relação ao deficiente visual são baseadas no conceito sócio-cultural que tenham a respeito dessa limitação e nos seus problemas pessoais.
Certas famílias expressam a rejeição da cegueira com indisfarçável hostilidade e negligência. Referem-se ao deficiente sem qualquer afeição, negligenciam seus interesses, descuidam de algumas responsabilidades que associam aos cuidados com a pessoa cega. Outras, conscientes de sua hostilidade e sentimentos negativos, constroem defesas para justificarem-se. Freqüentemente, culpam outras pessoas ou circunstâncias adversas para as suas dificuldades e problemas. Assim, pelo mecanismo de projeção, encontram um senso de autojustificação para seus impulsos antagônicos e aliviam o intenso sentimento de culpa.
A maior parte das famílias, todavia, não demonstra claramente sua atitude. Aparentemente seus membros são muito bons para o deficiente, mostrando-se extremamente solícitos a tudo que lhe diz respeito. Entretanto, se observados mais intimamente, vê-se que rejeitam a pessoa cega e, para acobertar essa rejeição, provocadora de intenso sentimento de culpa, superior ao de hostilidade, procuram uma compensação através de uma proteção excessiva. Tal atitude da família poderia levar à supressão da iniciativa do deficiente visual, tirando-lhe a oportunidade de comprovar sua capacidade de manejar as diversas situações de vida.
A atitude de um pequeno grupo de familiares caracteriza-se pela negação, em palavras e ações, dos efeitos que as limitações da pessoa cega têm sobre eles. Negam também a existência da deficiência visual.
Em conclusão, todas essas reações exercem influências negativas no portador de cegueira e/ou visão subnormal, porque nenhuma delas leva em conta o valor pessoa, enfocando somente suas limitações e ignorando o seu potencial, o que dificulta e até mesmo impede que ele se realize como cidadão.
2 - O ENSINO DAS TÉCNICAS DE LOCOMOTILIDADE PARA DEFICIENTES VISUAIS
É nosso intuito abordar os principais aspectos do ensino das técnicas de locomotividade para as pessoas portadoras de cegueira e de visão subnormal, focalizando os três aspectos seguintes: as técnicas de locomotividade, a pessoa que se submete ao seu aprendizado e o instrutor que ministra o treinamento.
Psicofisicamente, a perda da liberdade de movimento é um problema bastante grave. Com algumas exceções, os pequenos movimentos normais são controlados pela visão. Com a perda desta, a mobilidade no meio ambiente transforma-se num tremendo desafio. Mesmo para as pessoas que possuem o melhor equipamento e tiveram o melhor treinamento, a movimentação de um lado para outro requer o máximo de atenção, habilidade e coragem.
No início da cegueira, os problemas psicoemocionais da pessoa acrescido pelos estereótipos sociais, agravam sobremaneira as dificuldades. Nas pessoas com cegueira antiga, o medo acumulado, a motivação diminuída e os hábitos de locomoção prejudicados, aumentam a gravidade do problema. Em situação mais complexa estão as pessoas portadoras de cegueira congênita que não receberam na infância e adolescência educação e orientação adequadas. Não obstante esta situação, nada impede que o deficiente visual se desenvolva em outras áreas de atividade, habilidade e conhecimento, podendo mesmo alcançar posição de destaque na vida. Entretanto, ele sempre poderá ser comparado ao pássaro engaiolado que canta alegre e ajustado à condição de prisioneiro. Mas, suas deficiências aparecerão tão logo o soltem e seja obrigado a locomover-se sozinho num mundo onde os pássaros selvagens são normais. Em outras palavras, o pássaro caseiro é funcionalmente ineficiente comparado ao pássaro livre que percebe a diversidade de relações existentes no meio ambiente, o que tem pouco ou nenhum significado para o primeiro. Os indivíduos também, até certo ponto, tornam-se funcionalmente deficientes quando enfrentam um ambiente confuso e complexo. Assim, cada um de nós, procura treinar e educar-se para enfrentar e resolver adequadamente situações complexas que surjam num mundo de competições. Neste sentido, pergunta Platão, em se tratando de educação em geral: “não é a melhor educação aquela que dá ao espírito e ao corpo toda a beleza e perfeição de que são capazes?” Quase todos responderíamos afirmativamente. Entretanto, há muitos que nunca atingiram¸ atingem, ou não poderão atingir tal perfeição por este ou aquele motivo.
Discorrer sobre as vantagens de caminhar independentemente de ajuda seria comentar o óbvio. Todavia, deve-se considerar a grande importância da atividade muscular para a saúde do organismo. Somente a atividade e energia podem tornar este organismo em um ser humano eficiente. A musculatura humana precisa receber uma quantidade de estímulos significativos para elevar-se acima da manifestação banal da atividade. Precisa de estimulação regular para desenvolver o sistema neuromuscular, ou pelo menos, para manter-se no ponto mais útil. A tranqüilidade e o vigor do espírito e do corpo podem estar mais intimamente ligados à ação muscular do que comumente se supõe. Assim sendo, é de vital importância que o deficiente visual receba uma educação que lhe proporcione uma função sensitivo-motora eficaz, o que não pode ser feito parcialmente, tendo-se como escopo o objetivo de Platão e nosso também. É evidente, portanto, que andando sem um guia a pessoa cega terá muito mais condições e oportunidades de atingir essa integração. Além disso, a autonomia é uma necessidade humana, portanto, um direito humano que todos devem desfrutar.
Embora muitos processos para a locomoção do deficiente visual tenham sido estudados, tais como: auxílios eletrônicos e o “cão-guia” parece ser das melhores técnicas para diminuir os obstáculos à locomotividade e inculcar novos hábitos de locomoção aos cegos, o emprego da bengala longa. Isto porque o primeiro ainda não estão disponível comercialmente; o segundo, o “cão-guia”, devido à complexidade da seleção, aquisição, treinamento e manutenção do animal, aliadas à inexistência de escolas e treinadores no Brasil, bem como a efemeridade da vida do cão e a necessidade de legislação especial para permitir seu uso em qualquer situação, tornam este recurso inadequado à nossa realidade socioeconômica e cultural vigente. Entretanto, a utilização de qualquer meio para a locomoção: guia humano, cão-guia, bengala longa e outros, do ponto de vista de segurança e eficácia, deve ser avaliada em termos da capacidade e satisfação do indivíduo. Em nosso país há pouco para escolher.
A descrição detalhada de um sistema de locomoção, no presente trabalho, a Técnica de Hoover, pode, sem dúvida, acarretar falsas concepções que trazem mais prejuízos que benefícios. Entretanto, alguns esclarecimentos se tornam imprescindíveis para evitar idéias errôneas:
- nada há de misterioso ou de complicação no sistema de andar como o ensinado aos deficientes visuais. Trata-se de uma simples aplicação da lógica rigorosa, fria e prática, associada a alguns princípios físicos elementares, baseados na observação, experimentação, debate e na prática como foi investigada pelo Dr. Richard R. Hoover;
- não se trata de uma habilidade para ser dominada em dez lições fáceis. Aqueles que a conhecem e tiveram experiência, podem testemunhar isso;
- quando a técnica é empregada de forma correta, se torna plenamente eficaz para os fins a que se destina;
- não é difícil de ser aprendida, porém, exige muita prática e treinamento supervisionado;
- a desvantagem a que a minoria se refere é o comprimento da bengala. Isto é pouco relevante porque todos se acostumam logo, após um curto período de treinamento;
- esta técnica não deve ser considerada como a última palavra ou método decisivo. O interesse e esforço para o seu aperfeiçoamento ou estudo de melhores processos, devem estar sempre presentes no pensamento de todos aqueles que se dedicam a esta atividade.
Alguém disse que a liberdade não é uma coisa que se procura às apalpadelas, sempre além do alcance. Ela é intrínseca ao ser humano e deve ser desenvolvida a qualquer preço. O valor da locomoção independente pode ser igualado ao da própria vida, se aceitarmos o argumento filosófico de São Tomás de Aquino, que define o ser vivo como sendo aquele capaz de mover-se por si mesmo. O exercício do direito de “ir e vir” é mais significativo para o auto-respeito e a dignidade pessoal que o emprego ou posição de destaque social.A capacidade de locomoção independente e a consciência do mundo imediato são fatores essenciais para viver e ganhar a vida. Portanto, a imobilidade pode ser considerada como elemento de estagnação física e mental.
Uma entre várias definições de locomotividade é o conhecimento e o controle do deslocamento do corpo em relação ao ambiente. Esta definição deve ser ampliada para incluir uma lembrança de “onde estou, o que estou fazendo, aonde vou”, em relação aos lugares, coisas e outras pessoas.
O que é necessário para que o deficiente visual enfrente com sucesso o treinamento de sua locomotividade? Respondemos à pergunta antes pela análise das dificuldades a serem por ele enfrentadas, que pela simples enumeração de pré-requisitos.
O aprendizado das técnicas de locomotividade não é simples e frio como aparentemente possa parecer. Não basta apenas ter a bengala e saber manejá-la de acordo com as técnicas. A livre deambulação do deficiente visual despertará nele os problemas acarretados pela cegueira, os quais poderiam aparentemente resolvidos pela acomodação. O Reverendo Thomas J. Carrol, líder no campo da pesquisa e reabilitação de cegos nos Estados Unidos, estudando os efeitos da cegueira em seus portadores, identificou uma série de prejuízos motivados por esta limitação, alguns dos quais citaremos:
- perda da integridade física;
- perda da confiança nos sentidos remanescentes;
- perda de contato com a realidade;
- perda da perspectiva visual;
-perda da percepção das coisas que dão prazer visual;
- perda da locomoção independente;
-perda da facilidade de relacionamento com outras pessoas;
- perda da recreação de caráter ativo;
- perda da segurança pessoal, interna e externa;
- perda do funcionamento social adequado;
- perda da auto-estima, etc.
Considerando-se o indivíduo sob o impacto desses prejuízos e sob a pressão dos preconceitos já estabelecidos pela sociedade a respeito dos cegos, fácil se torna a compreensão da necessidade do preparo psicoemocional do deficiente visual para que se disponha a enfrentar com êxito o treinamento da locomoção independente. Neste preparo devem ser considerados aspectos tais como:
- grau de ajustamento à condição de cegueira;
- atitude da família face à limitação;
- pressões do ambiente em que o indivíduo vive;
- estrutura de sua personalidade que precisam ser estudados e trabalhados.
Códices físicas tais como: acuidade visual, causa da cegueira, prognóstico, cuidados especiais e época de instalação da deficiência são essenciais ao conhecimento da pessoa para que ela tome consciência da situação e possa decidir por ajudar a si própria.
O conhecimento do nível mental, condições senhoriais, incapacidades adicionais, condições orgânicas gerais, enfatizando os aspectos: cardiovasculares, endócrino e neurovegetativo, são de suma importância para a formulação de um programa de treinamento adequado.
Conclui-se que para a recuperação da locomotividade pela pessoa cega, é necessária a colaboração de várias disciplinas, o que nos induz à compreensão de que a locomotividade não é, nem pode ser um processo de aprendizagem isolado, devendo fazer parte de um programa de reabilitação total, no sentido de promover o máximo de independência e auto-suficiência desse indivíduo. Nesse esforço todos os profissionais são igualmente importantes e, se alguém deva sobrepor-se, com direitos insofismáveis, esse alguém é o aluno.
Talvez seja agora o momento oportuno para se dizer alguma coisa a respeito do profissional que irá ministrar o treinamento da locomotividade. Antes, porém, algumas considerações se fazem necessárias. É preciso enfatizar a necessidade da formação profissional, pois, o instrutor de locomotividade toma a vida e a segurança física e emocional dos clientes em suas mãos. A carência de instrutores neste campo é muito grande e não é surpresa encontrar-se voluntários, cegos ou videntes, sem treinamento, “ensinando” aos deficientes visuais como se locomoverem. Convém ponderar que ministrar treinamento de locomotividade a uma pessoa cega sem ter o preparo profissional para tanto, é uma temeridade.
Que tipo de pessoa, que características deve possuir, o que deve saber o indivíduo que pretende ser instrutor de locomotividade? Estes são alguns itens que a seguir procuraremos elucidar.
De acordo com a literatura especializada, a seleção de pessoal para esta atividade deve obedecer aos seguintes padrões:
- Escolar - instrução secundária completa.
- Físico - a) a visão não deve estar afetada de tal modo que não possa ser corrigida a 20/20. Não deve haver erros no campo visual, nem sinais de afecção patológica que possa progredir. b) Audição normal e bom estado físico.
- Características pessoais: - honestidade, capacidade de relacionar-se bem com as pessoas em geral, ou seja, estabelecer relações positivas, cortesmente profissionais; firme convicção no direito à autonomia do ser humano; bom senso e arguta capacidade de observação e interpretação são imprescindíveis. Em suma, um caráter capaz de reagir a todas as situações emocionais de modo construtivo, realista e otimista.
Outras características poderiam ser arroladas, mas julgamos mais fácil indicar como o instrutor não deve ser: mórbido, impaciente, autoritário, intolerante, desorganizado, embaraçado no trabalho, indeciso e desonesto.
Concluindo, esperamos ter esclarecido que o ensino das técnicas de locomotividade aos deficientes visuais é um serviço de alta relevância para a integração social dessas pessoas. Requer senso de responsabilidade e formação profissional, não devendo ser ministrado de forma isolada e empírica.
3 - TREINAMENTO SENSORIAL E INICIAÇÃO DA LOCOMOTILIDADE DO DEFICIENTE VISUAL
A elaboração deste roteiro objetivou oferecer subsídios aos diferentes profissionais que se encontram envolvidos diretamente com pessoas portadoras de cegueira ou de visão subnormal e, também, orientar pais e mestres de crianças cegas quanto aos procedimentos facilitadores do desenvolvimento da prontidão sensoperceptiva, psicomotora e emocional para o exercício da deambulação, o mais cedo possível.
Não se trata de um esquema rígido a ser fielmente seguido, mas, sim, de um conjunto de idéias objetivamente ordenadas, com o propósito de propiciar um sentido metodológico às experiências a serem oportunizadas aos deficientes da visão. Este conjunto deverá ser alterado e enriquecido para se adequar ao atendimento de cada pessoa e situação em particular.
São inúmeras as dificuldades das pessoas portadoras de cegueira ou de grave deficiência da visão para a estruturação da orientação espacial. Maiores, porém, são os embaraços advindos do seu deslocamento no espaço, por causa da imprescindível reorientação após cada ponto conquistado, não importando com que nível de facilidade.
Quanto mais cedo a pessoa recém-cega ou portadora de cegueira congênita for colocada no exercício do processo contínuo da reorientação espaço-temporal, maiores facilidades ela encontrará para a consecução do desiderato de atingir outro ponto no espaço-tempo, com ou sem o auxílio de um guia. Para tanto, ela deverá vivenciar a permanente consciência do corpo, da sua pessoa e de toda a realidade fenomenológica que a envolve. Para a organização ou reorganização da auto-imagem, estruturará ou reestruturará o esquema corporal através do potencial intelectual, sensoperceptivo e psicomotor. Quanto mais aprimoradas forem essas conquistas, tanto maiores serão as facilidades a serem desfrutadas pela pessoa cega na difícil tarefa de coincidentemente, abandonar um ponto conhecido no espaço-tempo para atingir um outro, ainda que próximo, com ou sem o auxílio de outrem.
As pessoas que compõem o círculo de convivência ou de relacionamento dos cegos ou deficientes visuais graves temem pela segurança destes. Evitam, dentro de suas possibilidades, que eles se exponham a riscos físicos, emocionais e morais. Para tanto, prestam-lhes toda a sorte de serviços a fim de que eles não se desloquem no espaço-tempo. Este procedimento, ainda que impregnado de forte humanismo e de boa intenção, priva a pessoa cega de experiências elementares necessárias à sobrevivência física, psicoemocional e social, agravando, ainda mais, os prejuízos decorrentes da condição de cegueira.
Operacionalizando os procedimentos destinados a promover as condições de funcionamento independente da pessoa cega, adulta ou criança, apresentamos a seguir uma série de conceitos e exercícios básicos para o desenvolvimento ou aprimoramento das funções senhoriais específicas e domínio das técnicas de locomotividade.
4 - FUNÇÕES ESPECÍFICAS - EXERCÍCIOS
4.1 - AUDIÇÃO
4.1.1 - Peça ao aluno que discrimine os diversos tipos de ruídos existentes em diferentes ambientes. Aproveitando oportunidades semelhantes, posteriormente, peça ao aluno que localize as fontes sonoras, tocando-as, sempre que possível.
4.1.2 - Conduza o aluno a uma área livre de obstáculos e afaste-se dele alguns passos (cinco a dez, por exemplo). Falando-lhe continuamente, diga-lhe que venha até você e o toque. Quando o aluno houver alcançado êxito freqüente, prossiga como segue:
4.1.3 - Afaste-se novamente, cinco a dez passos do aluno e após pedir-lhe que o alcance permaneça em silêncio - quando ele começar a andar em sua direção. Quando apresentar desvio acentuado, fale novamente com ele e silencie assim que tenha feito a correção da rota. Quando o aluno houver alcançado êxito freqüente, passe à etapa seguinte:
4.1.4 - Em condições favoráveis (ausência de obstáculos e degraus), indique ao aluno alguns sons eventuais no ambiente para que ele os localize, por exemplo, ruído de portas, telefone, etc.
Recomendação: - Repetir estes exercícios e outros semelhantes tantas vezes quanto necessárias para ficar claramente provada a capacidade ou não do aluno orientar-se pela audição.
4.1.5 - Em horário de maior silêncio, caminhe com o aluno ao longo de um corredor em que existam muitas portas ou recuos fechados. Cuidado especial deve ser tomado para que não haja corrente de ar saindo das portas abertas ou dos recuos do corredor. Peça ao aluno que caminhe e pare em frente a cada porta aberta ou recuo do alinhamento. Quando houver conexão de corredores, peça ao aluno que indique a mudança de direção dos mesmos, sem que tenha tocado nas paredes. O aluno deve ainda ser capaz de indicar o término do corredor sem esbarrar nas pareces ou qualquer coisa que lhe possa servir de referência (vasos, quadros, etc.).
Quando o aluno apresenta grande dificuldade para efetuar este tipo de discriminação, é aconselhável que ele produza algum tipo de ruído, por exemplo: estalar os dedos, assobiar, pisar mais forte, etc.
4.1.6 - Acompanhe o aluno para um corredor, pátio, ou mesmo rua, onde possam ser encontrados pilares, árvores ou postes. Diga-lhe que pare ao lado de cada obstáculo percebido sem que o tenha tocado. Permita-lhe verificar quanto obteve de êxito.
4.1.7 - Caminhe com o aluno pelo pátio ou rua onde possam ser encontrados toldos, sacadas ou marquises. Diga ao aluno que indique a presença dessas coberturas quando estiver passando sob elas.
Recomendação: - Nestes exercícios o aluno deve andar livremente. Cuidado especial deve ser tomado para que ele não faça a discriminação por meio da sombra em horário de sol. Os exercícios devem ser repetidos tantas vezes quanto o necessário, para que se torne clara a capacidade ou não de o aluno servir-se dessas percepções para orientar-se.
4.2 - TATO
4.2.1 - Em passos sucessivos, apresente ao aluno coleções de materiais das mais variadas texturas, por exemplo: diferentes tipos de papéis, de tecidos, de madeiras, de fios, de plásticos, de vidros, etc. Permita que ele examine os materiais e, a seguir, faça a discriminação tátil das diferentes texturas em termos de: liso, áspero, regular, irregular, etc. Diga-lhe que também discrimine a consistência dos materiais em termos de: macio, duro, flexível rígido.
4.2.2 - Aproveitando os mesmos materiais anteriormente utilizados, acrescente a eles umidade e calor. Indique ao aluno que agora ele deve discriminar percepções térmicas e de umidade, ou ambas simultaneamente.
4.2.3 - Quando o aluno tiver obtido êxito freqüente nos exercícios, proponha-lhe que proceda as mesmas discriminações (liso, áspero, regular, irregular, macio, duro, flexível, rígido, seco e molhado), servindo-se para isto de um instrumento, por exemplo: uma espátula, para tatear os materiais.
4.2.4 - Para esta etapa que deve ser subseqüente às anteriores, prepare um conjunto de vasilhas e coloque um conteúdo que apresente uma variação gradativa do estado líquido ao estado sólido. Este conteúdo deverá ser oleoso e não oleoso. Exemplo: água, mingau, creme, pasta, massa semi-sólida, massa solidificada, óleo fino, óleo denso, graxa espessa, graxa solidificada. Indique ao aluno que identifique as diversas consistências. Inicialmente pelo tato direto e posteriormente, através de uma espátula.
Recomendação: - Repetir os exercícios tantas vezes quantas sejam necessárias para tornar clara a capacidade do aluno efetuar tais discriminações.
4.2.5 - Acompanhe o aluno a uma área onde possa ser exposto a correntes de ar de saídas de edifícios, vãos de prédios e esquinas. Peça-lhe que o informe quando perceber a corrente de ar, indicando a direção de sua procedência.
Num passo subseqüente, aproveitando situações semelhantes, peça ao aluno que discrimine a existência de correntes de ar, procedência das mesmas e temperatura delas - frias ou quentes.
4.2.6 - Numa etapa mais avançada, peça ao aluno que discrimine as ondas de calor refletidas por diversos materiais: granito, asfalto, cimento, terra, vegetação e superfícies metálicas. Para tanto, conduza o aluno a áreas onde, em horários adequados, possam ser percebidas essas diferenças de temperatura na atmosfera.
Em caso de haver impossibilidade de saída do ambiente da casa ou da escola, poderão ser empregados para se obter os mesmos efeitos, portas e janelas (abertas ou fechadas), ventiladores, aquecedores, geladeira, fogão, ferro elétrico, etc.
Será indispensável que o aluno saiba discriminar a área de sol e sombra, não obstante possa haver correntes de ar quente na sombra e de ar frio na área de sol.
Recomendação: - Os exercícios devem ser repetidos até que fique evidente a capacidade ou não do aluno fazer uso dessas percepções para a sua orientação.
4.2.7 - Prepare, em relevo e em separado, os vários tipos de linhas e suas combinações possíveis. Apresente-os sucessivamente ao aluno em seqüentes graus de complexidade. Permita-lhe que os examine e os identifique. A seguir, peça ao aluno que reproduza na reglete, em aparelho de desenho ou de outra forma que encontrar, os modelos dados.
4.2.8 - Em seqüência aos procedimentos anteriores, faça com que o aluno identifique os diversos tipos de linhas e de suas combinações, existentes nos objetos de seu uso diário.
4.2.9 - Apresente ao aluno um conjunto de sólidos geométricos. Permita que ele os examine em separado e os identifique. A seguir, misture as peças e vá sorteando uma a uma, para que o aluno a reconheça.
4.2.10 - Apresente ao aluno as figuras geométricas representadas no plano, de forma pontilhada e cheia. Podem igualmente ser usados modelos em madeira ou em qualquer tipo de material disponível. Permita que o aluno examine e identifique cada modelo dado. Posteriormente, peça-lhe que identifique os modelos sorteados aleatoriamente do conjunto, previamente embaralhados.
Recomendação: - Todos esses exercícios devem ser repetidos até que fique evidente a capacidade ou não do aluno efetuar tais discriminações.
4.3 - OLFATO
4.3.1 - Em diversos ambientes e diferentes horários, estimule o aluno a identificar os diferentes odores existentes. Supermercados e grandes magazines são locais apropriados para este tipo de exercício.
4.3.2 - Apresente ao aluno produtos comuns, com odores fortes. Exemplo: gasolina, naftalina, inseticida, cera, desinfetante, etc. Peça-lhe que os discrimine por tipo de produto.
4.3.3 - Num passo subseqüente, apresente ao aluno produtos comuns com odores suaves. Exemplo: cosméticos, perfumes, etc. Peça ao aluno que faça a discriminação por tipo de produto: talco, batom, dentifrício, sabonete, colônia, etc.
4.3.4 - Acrescente aos odores os fatores de aquecimento e umidade. Peça ao aluno que ao identificar o odor (doce, seco, acre, ácido, fermento) discrimine também suas condições de calor e umidade.
4.3.5 - Numa segunda fase, aproveite os mesmos produtos utilizados, colocando-se um por vez, em local desconhecido do aluno, porém de forma que possa ser percebido o odor exalado. Estimule o aluno a localizar a fonte emanadora do odor.
Recomendação: - Uma precaução deve ser tomada com relação ao treinamento olfativo, pois, este sentido satura-se com muita rapidez. Portanto, os períodos de treinamento devem ser curtos. O ambiente onde se fizer o treinamento deve ser arejado para que a atmosfera não fique logo impregnada. Os exercícios devem ser repetidos até que fique evidente a possibilidade ou não do aluno utilizar-se das percepções olfativas para a sua orientação espaço-temporal.
4.4 - GUSTAÇÃO
4.4.1 - Faça com que o aluno experimente, sem engolir, alguns alimentos ou produtos com os sabores básicos: amargo, azedo, doce e salgado. Peça-lhe que discrimine cada sabor.
4.4.2 - Apresente ao aluno para que ele os discrimine alimentos básicos com os sabores básicos bastante suavizados.
4.4.3 - Numa segunda etapa, faça as combinações possíveis dos sabores básicos e peça ao aluno que os identifique nas misturas.
4.4.4 - Apresente ao aluno para que ele experimente, sem engolir, sólidos e líquidos, cozidos ou crus, de preferência os mais comuns, a fim de que os identifique pelo paladar.
OBSERVAÇÃO: - Os exercícios devem ser repetidos até que fique evidente a capacidade ou não do aluno efetuar tais discriminações.
4.5 - SENTIDOS INTEGRADOS
4.5.1 - Apresente ao aluno as diversas essências, empregadas na culinária, para que ele as identifique olfativamente. Quando houver obtido êxito, dissolva-as em água e apresente-lhe para a discriminação gustativa.
4.5.2 - Acompanhe o aluno a ambientes onde ele possa ser envolvido em situações as mais diversificadas. Peça-lhe então que discrimine alguns dos estímulos senhoriais presentes no ambiente e, tanto quanto possível, localize as fontes estimuladoras com o máximo de precisão. Os estímulos podem ser: vozes humanas, de animais, ruídos - de cozinha, de escritório de indústria; perfumes de pessoas e odores característicos - de farmácia, de açougue, barbeiro, bar, etc.
4.5.3 - Instrua o aluno para que o mantenha informado do ambiente assim como ele o percebe: tipo de piso, espaço disponível, condições de arejamento, quantidade de pessoas presentes, calor, umidade, existência de mobiliário, bem como os diversos tipos de sons e ruídos existentes.
4.5.4 - Numa fase mais avançada, proponha ao aluno que faça a relação da própria posição com a da fonte estimuladora. Peça-lhe que o mantenha informado dos detalhes da maneira pela qual ele efetua essa relação: fonte estimuladora à frente, à esquerda, à direita, etc Aluno à frente, à direita, à esquerda, etc. da fonte estimuladora, assim como as combinações possíveis.
4.5.5 - Peça ao aluno que efetue também a correção das posições das várias fontes estimuladoras entre si, até que alcance o máximo de precisão na localização.
4.5.6 - Na impossibilidade de sair da sala de aula ou da casa do aluno, esse treinamento poderá ser feito da seguinte maneira: coloque o aluno diante de uma mesa onde haja diversos objetos que produzam sons específicos, por exemplo: rádio, campainha, relógio, ventilador, etc. Diga-lhe que faça a relação da sua pessoa com cada objeto existente, separadamente.
Numa segunda etapa, o aluno deverá fazer a relação da sua pessoa com o conjunto de objetos. Após o aluno haver alcançado êxito nesses exercícios, poderão ser acrescentadas fontes de calor, de odor, etc.
4.5.7 - Marque dois pontos no chão com uma distância mínima de cinco metros entre eles. A seguir, coloque o aluno sobre a primeira marca e em seguida, caminhe com ele até a outra, parando sobre ela. Em seqüência, diga ao aluno que, partindo de onde se encontra, caminhe uma distância que lhe pareça igual à anterior. Quando o aluno parar, marque o local e meça o espaço por ele percorrido na segunda caminhada. Informe-o quanto obteve de acerto.
4.5.8 - Marque uma altura na parede ou árvore, que seja diferente da altura da mão do aluno com o braço caído ao longo do corpo. Faça com que o aluno a identifique colocando a mão dele sobre a marca. A seguir, faça com que ele retorne a mão utilizada na verificação da marca para a posição normal, caída juntamente com o braço ao longo do corpo. Ande então com ele um espaço de cinco a seis metros e diga-lhe para que marque noutro local uma altura que lhe pareça igual à verificada anteriormente. Após conferir a medida exata, informe ao aluno o quanto obteve de acerto.
4.5.9 - Servindo-se de um cronômetro ou relógio com ponteiro de segundos, marque um período de tempo, por exemplo: 15, 20, 30, 60 segundos, assinalando o princípio e o fim do período de tempo com o toque de campainha ou de outro modo bem distinto. A seguir, peça ao aluno que faça o mesmo: assinale o princípio e o término de um período de tempo que lhe pareça igual ao anterior, porém, sem fazer uso do relógio. Cronometre o tempo por ele indicado e o informe sobre o quanto obteve de acerto.
4.5.10 - Assinale no corredor, pátio ou outro lugar, um espaço mínimo de 15 metros. Caminhe com o aluno de um extremo ao outro, cronometrando o tempo gasto. A seguir, peça ao aluno que percorra um espaço que lhe pareça igual ao anterior, usando igual período de tempo. Cronometre e confira a distância percorrida. A seguir, informe ao aluno o quanto obteve de êxito.
4.5.11 - Apresente ao aluno uma superfície simetricamente perfurada ou quadriculada em relevo. Permita-lhe que a examine inteiramente. A seguir, peça-lhe que marque um ponto de sua livre escolha e o relacione em termos de posição com aqueles que você irá indicando.
4.5.12 - Após o aluno haver obtido êxito freqüente no exercício anterior, proponha-lhe que examine integralmente um ambiente fechado, por exemplo: a sala de aula. A seguir, permita-lhe que escolha um ponto em que se colocará para fazer a relação de posição da sua pessoa com os objetos, e vice-versa, inclusive os existentes no plano vertical. Diga-lhe que escolha vários outros pontos no ambiente e repita o exercício.
RECOMENDAÇÃO: - Todos os exercícios devem ser repetidos até que o aluno obtenha o máximo de êxito, ou seja, que o seu desempenho não possa mais ser melhorado.
5 - LOCOMOTILIDADE DO DEFICIENTE VISUAL
5.1 - POSTURA
São acentuadas as deformações da postura estática ou dinâmica provocadas pela cegueira. A inclinação da cabeça para frente, para baixo, ou mesmo lateralmente, perda do balanceamento dos braços, encurtamento do passo, perda do equilíbrio e o arrastar dos pés, são alguns dos prejuízos na área física. Quanto maior for o tempo de imobilidade após a cegueira, mais acentuadas serão essas dificuldades.
5.1.1 - Peça ao aluno que dê as costas a uma parede e nela se encoste totalmente: cabeça, costas e calcanhares. Deixe que ele permaneça nessa posição por alguns minutos a fim de que tome consciência da diferença entre a postura correta e aquela adotada por ele habitualmente.
5.1.2 - Quando o aluno for capaz de manter o corpo corretamente na posição vertical, encostado ou fora da parede, diga-lhe que volte a ela e se coloque na posição inicialmente ensinada. Peça-lhe que coloque as mãos na nuca, entrelaçando os dedos. A seguir, force os cotovelos do aluno de encontro à parede para provocar a abertura dos ombros. Em seguida, diga-lhe que deixe os braços caírem ao longo do corpo, conservando o máximo de abertura dos ombros. Recomende-lhe que, doravante, procure manter a postura como a que apresenta no momento do exercício, quer se encontre de pé, sentado ou caminhando.
5.1.3 - Para que o aluno reconheça a importância da recomendação anterior, conduza-o lentamente em direção a uma parede, mantendo a posição ensinada. Ele deverá tocá-la com a ponta do pé, antes que seu corpo se choque com ela. Repita a experiência, recomendando ao aluno que conserve a posição curvada do tronco com a projeção da cabeça. Caminhando em direção da parede, esta será tocada primeiramente por sua cabeça.
RECOMENDAÇÃO: - Pelo fato da postura constituir uma projeção física da personalidade, segundo Gesell, deixa de ser pedagógico chamar continuadamente a atenção do aluno para este aspecto. Não obstante, de quando em vez, ele deverá ser relembrado dos grandes benefícios que pode usufruir por manter a postura a mais correta possível.
5.2 - MARCHA
Explique ao aluno que a marcha se compõe de três tempos básicos: batida do calcanhar, apoio plantar e propulsão com a ponta do pé. Ela se desenvolve com o emprego coordenado das articulações (tornozelos, joelhos e quadris), músculos e tendões do aparelho locomotor, deslocamento do peso do corpo de um pé para o outro, balanceamento coordenado dos braços, em fim, com toda a harmonia corporal, constituindo um todo em movimento. A divisão apresentada é apenas de caráter didático.
5.2.1 - Coloque o aluno na barra paralela e permita que apóie uma das mãos. Não havendo este equipamento disponível, peça ao aluno que se coloque paralelamente a uma parede onde se apoiará com uma das mãos. Diga-lhe que dê um passo à frente e, sem retirar o pé que ficou atrás, fixe-os nos pontos tocados. Instrua o aluno para que faça a transferência do peso do corpo do pé que está à frente, para o ponto de partida. Chame a atenção do aluno para o sincronismo das diversas posições dos pés (batida do calcanhar, apoio plantar e propulsão com a ponta do pé). Faça com que ele note a necessidade de flexão dos tornozelos e joelhos e o emprego da articulação coxofemoral. Este exercício deve ser repetido até que o aluno resgate o movimento correto do caminhar.
5.2.2 - Quando o aluno tiver aprendido os movimentos corretos da marcha, peça-lhe para que ande, parando a cada passo, observando o sincronismo das diversas posições dos vários segmentos do corpo envolvidos diretamente no andar. A seguir, peça-lhe que ande livremente e pare, a uma ordem sua, mantendo os vários segmentos do corpo na posição em que se encontrarem, fazendo ele próprio a avaliação da coordenação e uso dos segmentos corporais.
5.2.3 - Para que o aluno consiga melhorar a extensão do passo, faça com que verifique a distância existente entre o calcanhar do pé que vai à frente e a ponta do que ficou atrás. Para isto, permita-lhe que caminhe livremente e, ao seu sinal, pare, conservando os pés nos pontos tocados. Diga-lhe que se abaixe e verifique a distância entre os pés. Informe ao aluno que o espaço mínimo entre os pés para um caminhar adequado é o tamanho do próprio pé. Quando este espaço é menor a pessoa anda arrastando os pés, correndo maior risco de tropeços.
RECOMENDAÇÃO: - Este exercício deve ser repetido freqüentemente, até que o aluno forme o hábito de dar o passo na extensão proporcional aos seus membros inferiores.
5.2.4 -Permita que o aluno ande livremente, numa sala sem obstáculos, partindo de uma parede, indo até àquela que lhe fica oposta. Diga-lhe que conte os passos. A seguir, peça-lhe que faça o mesmo percurso com menor número de passos.
RECOMENDAÇÃO: - Repetir este exercício até que a freqüência do número menor de passos se estabilize. Explique ao aluno que o rendimento da marcha pode ser grandemente melhorado apenas com o aumento da extensão do passo, sem prejuízo da segurança e aceleração do ritmo.
5.3 - SEGURANÇA FÍSICA
O andar ereto protege a cabeça de possíveis impactos em paredes, portas e pessoas. Todavia, os obstáculos à meia altura e que não apresentam continuidade de superfície até o solo, oferecem riscos à região baixa do abdome quando o aluno se locomove desacompanhado e sem utilizar-se da bengala.
5.3.1 - Ensine o aluno que os deslocamentos laterais devem ser evitados. Ele sempre deverá voltar-se na direção em que irá mover-se. Coloque uma cadeira junto à mesa e o aluno do lado oposto. Diga-lhe que procure a cadeira e se sente. Cuide para que ao circular a mesa o aluno caminhe sempre de frente na direção do movimento.
5.3.2 - Em ocasiões diferentes, tome a mão do aluno e puxe-o para o lado. Caso ele se desloque lateralmente, chame sua atenção para o fato, relembrando que ele deverá andar sempre voltado para a direção do movimento.
RECOMENDAÇÃO: - O aluno deverá tomar cautela com relação aos deslocamentos para trás, sem que se tenha voltado para a direção do movimento.
5.3.3 - Ensine o aluno a proteger o corpo colocando o braço em extensão, diagonalmente, à frente do corpo, com a mão para baixo e o dorso da mesma voltado para frente, ao centro da região mais baixa do abdome. Deverá conservar um espaço de 5 a 10 centímetros entre a mão e o corpo. Sempre que estiver caminhando sem bengala e desacompanhado, deverá conservar um dos braços na posição anteriormente descrita, a fim de evitar choques imprevistos. Faça com que o aluno caminhe empregando esta técnica de proteção. Para que ele reconheça a utilidade deste procedimento, coloque obstáculos de meia altura em seu caminho a fim de que ele os encontre com o dorso da mão do braço que o protege.
5.3.4 - Ensine o aluno a proteger o rosto contra possíveis choques ao abaixar-se para apanhar algo no chão. Deverá abaixar-se conservando o mais possível o corpo na posição vertical. Para isto, deverá fazer uso das articulações coxofemoral, joelho e tornozelo, ao invés de inclinar o corpo para frente, flexionando a coluna na altura da cintura. Para que o movimento seja mais livre, recomenda-se que os pés fiquem um pouco afastados e um adiante do outro. Tomando estes cuidados e colocando o antebraço em ângulo reto com o braço, horizontalmente ao nível do rosto, ele estará protegido de choques eventuais da face com algum obstáculo: espaldar de cadeira, quina de mesa, gavetas abertas, etc.
Deixe cair algum objeto e peça ao aluno que o apanhe. Quando tiver aprendido satisfatoriamente a posição descrita anteriormente, coloque obstáculos entre o aluno e o objeto a ser apanhado. Repita freqüentemente exercícios semelhantes para que o aluno adquira o hábito de proteger-se (figuras 4a e 4b).
RECOMENDAÇÃO: - Ensine o aluno que, quando estiver em companhia de outra pessoa cega e ocorrer a queda de algum objeto, antes de abaixar-se para apanhá-lo, deverá informar a outra pessoa que irá fazê-lo. Assim procedendo, estará evitando o provável choque das cabeças de ambos.
5.3.5 - Para as ocasiões em que ocorrer a necessidade de caminhar desacompanhado e sem o auxílio da bengala em ambientes totalmente estranhos¸ recomenda-se que o aluno empregue a conjugação das duas técnicas de proteção, superior e inferior, simultaneamente. Igual procedimento é recomendado para porões, quartos de despejo e áreas em que se acumulem grande quantidade de obstáculos que torne impraticável o emprego da bengala.
5.4 - ORIENTAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL
A orientação espaço-temporal é um contínuo processamento de inúmeros sinais presentes no ambiente para determinar a posição ocupada pela pessoa e permitir o planejamento da trajetória de deslocamento, a fim de alcançar outro ponto no espaço, previamente determinado, num período de tempo calculado.
5.4.1 - Ensine ao aluno a utilizar-se dos diversos estímulos senhoriais existentes no ambiente. Especialmente, ensine-o a posicionar-se em relação aos diferentes objetos existentes, utilizando suas linhas básicas como indicadores de direção. Faça-o caminhar ao longo de uma corda solta no chão e perceber as mudanças de direção indicadas por ela. Ele deverá senti-las com os pés.
5.4.2 - Ensine o aluno a seguir o alinhamento de uma parede, tocando-a com o dorso da mão, com o braço abaixado. Permita, inicialmente, que ele toque a parede durante todo o percurso. Todavia, chame a sua atenção para que espace os toques e continue a perceber a existência da parede através de outras informações senhoriais.
5.4.3 - Peça ao aluno que caminhe por entre as carteiras da sala de aula (ou móveis de algum outro ambiente) mudando continuamente a direção, ao passar de uma para o outra.
5.4.4 - Numa segunda etapa deste treinamento, o aluno deverá ser colocado num ambiente livre de obstáculos onde haja várias fontes sonoras (pessoas falando, rádio tocando, etc.). O aluno deverá caminhar de uma para outra fonte, mudando continuamente de direção ao atingi-las.
III - PRÁTICA DE ENSINO
1 - PLANO DE ENSINO
Este plano de aulas tem por objetivos apresentar de maneira organizada os conteúdo básicos para o adequado treinamento da orientação espacial e da locomotividade da pessoa cega. Visa também apresentar uma seqüência básica dos passos a serem seguidos a fim de facilitar o trabalho do instrutor.
Não se espera que o conteúdo de uma aula seja esgotado numa única sessão de treinamento. A experiência de vida, as condições físicas e a capacidade intelectual de cada pessoa cega a quem é ministrado o treinamento, além da sua pré-disposição emocional e psicológica para empreendê-lo, são fatores variáveis que determinam o grau de assimilação do conteúdo de cada aula.
Parte-se do pressuposto de que este material será usado somente por instrutores qualificados e com uma preparação básica, treinamento específico e qualidades pessoais que lhe permitam efetuar adaptações e, até mesmo improvisar, de acordo com as necessidades específicas de cada aluno.
Procurou-se limitar o conteúdo das aulas, de tal maneira, que ele se refira, direta e exclusivamente, ao treinamento da orientação espacial e da locomotividade. Entretanto, espera-se que a compreensão tenha dos procedimentos pedagógicos e a sua capacidade de apreciar objetivos mais amplos que possam ser obtidos através de tal treinamento, o levem a motivar e explicar ao cliente o uso de procedimentos que possam não ser essenciais para o alcance dos objetivos específicos dos planos, mas que darão especial interesse e valor aos seus resultados.
O instrutor terá um agradável e útil método que adicionará motivação para o aluno, no seu dia a dia, se planejar várias rotas de caminhada para serem empregadas em cada aula, terminando-as nas proximidades de lanchonetes, bares e restaurantes. Este procedimento dará oportunidade para o instrutor e o aluno valerem-se do alívio proporcionado por um refresco ou cafezinho e, num ambiente informal e de descanso, avaliarem as dificuldades do treinamento do dia. Freqüentemente, este método proporcionará excelente oportunidade para o aluno aprender sob competente supervisão, a dirigir-se a um local público para comer - encontrar uma mesa, fazer o seu pedido, servir-se, pagar a conta, localizar o sanitário, etc.
É comum ter sido transmitido às pessoas cegas o conceito da existência de um “esforço extra” na exploração do ambiente através do tato e das percepções cinestésicas. Isto tende a provocar nelas o desânimo e o abandono de seus esforços para concretizar a percepção da realidade. Por outro lado, existe nelas o termo de desenvolver um verbalismo, sem bases concretas. Sua informação passa através de excessiva submissão da curiosidade ao autoritarismo do informante. Por isso, são freqüentemente encontradas inferências errôneas de conteúdo que as deixam sentirem-se livres, ou desprovidas de cuidados e de experiência emocional que somente podem se originar através do conhecimento de primeira mão. Esta situação tende a repercutir no desenvolvimento da personalidade à qual faltará o vigor emocional e a necessária maturidade social.
O problema acima indicado pode ser evitado ou grandemente reduzido pela técnica de animar a pessoa cega a usar o tato e as percepções cinestésicas, propositadamente e sem inibição, tanto quanto lhe seja possível. Ela deve ser encorajada a manter-se alerta e a atribuir significados a todos os estímulos existentes na sua proximidade. Esses estímulos serão por ela detectados através dos sentidos remanescentes. O instrutor de locomotividade se encontra em excelente posição para fazer isso. No exercício do seu trabalho com o cego, freqüentemente ele pode ajudá-lo a interpretar sons, odores, vibrações, etc. Ele não deve perder a oportunidade para incentivar o aluno a usar o tato e as percepções cinestésicas na exploração de conceitos com objetos concretos em lugares comuns, ou em atividades que ele ainda não domine. A interpretação correta dos ruídos de uma rua em obras, do cheiro procedente de uma farmácia ou serraria e outras inúmeras pistas, assegurarão a compreensão das ocorrências em lugares comuns e a orientação espacial em seus arredores. Isto produzirá um efeito positivo recíproco entre o indivíduo e o seu grupo social, o que é imprescindível para a sua saúde emocional e desempenho social adequado.
São óbvios os benefícios vocacionais, sociais e econômicos que resultam da habilidade de permanecer orientado dentro do próprio ambiente e desfrutar de locomoção independente. Mas, esta habilidade proporciona um benefício psicológico que é ainda mais importante e fundamental para ele. O instrutor deverá empenhar-se no sentido de que o aluno alcance esta compreensão.

Fonte:http://www.cmdv.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=568

Um comentário:

  1. Parabéns professor Vanderlan,muito bem elaborado seu Blog,além de ser muito instrutivo e utilitário.
    Continue nos presenteando com seus artigos e seu Blog.Parabéns!

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