sexta-feira, 29 de julho de 2011

LENDAS INDÍGENAS II


O Açaí
Em tempos remotos, havia no local onde se erigiria, mais tarde, Belém do Pará, uma tribo que, devido à escassez de alimentos, vivia sempre em grandes dificuldades. E como a tribo aumentava dia a dia, o cacique Itaki reuniu sua gente, fazendo sentir a grande crise que adviria, caso continuasse a crescer demograficamente.
Resolveu, de comum acordo com os mais velhos guerreiros e curandeiros, sacrificar toda criança que nascesse a partir daquele dia. Talvez devido à tal medida, passaram-se muitas luas sem nenhuma nativa conceber. Porém, um dia, Iaçá, a filha do cacique Itaki, concebeu uma linda criança. Entretanto, não demorou muito para o Conselho Tribal se reunir e pedir o sacrifício da filha de Iaçá.
Seu pai, guerreiro de palavra, não hesitou em dar cumprimento à sua ordem. Ao saber da sorte de seu rebento, Iaçá implorou ao pai que poupasse a vida da filha, pois os campos estavam verdejantes e a caça não tardaria a abundar na região. O cacique Itaki, porém, manteve sua palavra e a criança foi sacrificada.
Iaçá enclausurou-se em sua tenda, ficando ali por quase dois dias de joelhos, rogando a Tupã que mostrasse a seu pai uma maneira pela qual não fosse preciso repetir o sacrifício de inocentes. Alta hora da noite, porém, ouviu Iaçá um choro de criança.
Aproximou-se da porta da tenda e, então, viu sua filha sorridente ao pé de uma esbelta palmeira. A princípio, ficou estática. Depois, em correria louca, lançou-se em direção à filha, abraçando-se a ela, mas deparou-se com a palmeira, pois, misteriosamente, a criança desaparecera.
Iaçá, inconsolável,chorou copiosamente até desfalecer.
No dia seguinte, o seu corpo foi encontrado ainda abraçado à palmeira. Estava morta, mas seu semblante risonho irradiava satisfação; ao mesmo tempo, seus grandes olhos negros, inertes, fitavam o alto da palmeira.
Itaki notou que a palmeira tinha um cacho de frutinhas pretas. Ordenou que fosse apanhado e amassado em um grande alguidar de madeira, obtendo, assim, um vinho avermelhado. Agradeceu a Tupã e, invertendo o nome da sua filha Iaçá, batizou o estranho vinho de Açaí, suspendendo em seguida, a limitação de seu povo.
E vieram os anos. O vinho vermelho veio a fortalecer gerações de guerreiros e caboclos. Belém tornou-se metrópole e, até hoje, seus habitantes tomam o vinho dessa palmeira nativa e se sentem fortalecidos graças às lágrimas de sangue da índia Iaçá.

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