sábado, 30 de julho de 2011

LENDAS INDIGENAS IV


Matinta Perera

Ao ouvir durante a noite nas imediações da casa um estridulante assobio, o morador responde:

- Matinta, deixa a gente descansar e amanhã podes passar aqui para pegar tabaco.

No dia seguinte uma velha aparece na residência onde a promessa foi feita, a fim de apanhar o fumo. A cena descrita podia acontecer nos subúrbios de Belém, há alguns anos, ou ainda hoje, no interior do Pará e de toda a Amazônia.

Matinta Pereira, Matinta Perera, Mati-Taperê, Mat-taperê, Matim-Taperê, Titinta-Pereira são algumas formas de grafar este mito que se apresenta principalmente como sendo uma velha acompanhada de um pássaro. O pássaro emite um assobio agudo, à noite, que perturba o sono das pessoas e assusta as crianças, ocasião em que se promete tabaco ou fumo (aparece como promessa principal) mas que também pode ser alimento. A velha, uma pessoa idosa do lugar, carregaria a sina de "virar" Matinta Perera, ou seja, à noite transformar-se em ser indescritível, a meter medo e assombrar as pessoas. O mito da Matinta Perera chegou a ser confundido com o do Curupira, do Caapora e do Saci. A Matinta Perera pode ser de dois tipos: com asa e sem asa. A que tem asa pode transformar-se em pássaro e voar nas cercanias do lugar onde mora. A que não tem, anda sempre com um pássaro, considerado agourento, e identificado como sendo "rasga-mortalha". Dizem que a Matinta, quando está para morrer, pergunta: Quem quer? Quem quer?

E se alguém mais afoito, principalmente mulher, disser "eu quero", pensando em se tratar de alguma herança de dinheiro ou jóias, recebe na verdade a sina de "virar" Matinta Perera. Embora a grande maioria de registros informe que a Matinta Perera é mulher, existe pelo menos uma história passada em Inhangapi em que a Matinta Perera era um homem, por sinal um negão forte e musculoso.

Há fórmulas mágicas que permitem "prender" a Matinta Perera. Um deles exige uma tesoura virgem, uma chave e um terço. Cerca de meia noite deve-se abrir a tesoura, enterrar na área, colocar no meio a chave e por cima o terço, após o que rezam-se orações especiais. A Matinta Perera ficará presa ao local, não conseguindo afastar-se...

No livro "Visagens e Assombrações de Belém" o escritor narrou a história "A Matinta Perera do Acampamento", ocorrida na década de sessenta, na qual uma Matinta Perera foi presa pela fórmula e levada pelos habitantes ao Posto Policial do bairro da Pedreira, onde foi feita a acusação de que a mulher "virava" Matinta Perera, ante os policiais incrédulos. Mas naquela época - como até hoje - não se configurava como crime previsto em lei "virar" Matinta Perera, e a mulher ganhou a liberdade, voltando como vingança, a azucrinar a paciência dos moradores do Acampamento com seus estridulantes assobios

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