sábado, 14 de maio de 2011

O professor na escola Inclusiva

Essa é, sem dúvida, a questão mais séria e que precisa ser discutida com mais propriedade. Sabe-se que, apesar da escassez de produções acadêmicas em áreas concebidas como específicas e identificadas pelo título de Educação Especial, é possível encontrar alguns trabalhos publicados e pesquisas na área. No entanto, quando o foco é a prática pedagógica na perspectiva inclusiva, ainda estamos muito carentes, e talvez até órfãos, de referenciais que contribuam para minimizar as dificuldades encontradas.

Considerando que não há nenhuma receita milagrosa que venha salvar os professores dos desafios e obstáculos que precisarão enfrentar, é essencial encorajá-los ao debate, que minimiza angústias e cria possibilidades de reflexão e construção. Diante disso, apresentamos alguns princípios imprescindíveis à prática inclusiva, que podem até funcionar como um teste para que cada professor e cada instituição descubra se, de fato, está conseguindo caminhar pelas estradas da democratização do ensino e, portanto, da inclusão educacional.

O primeiro princípio da inclusão é que todos os alunos têm direito à educação, e a pergunta que cada professor deve fazer a si mesmo é a seguinte: “Estou aceitando todos os alunos na minha sala ou tendo a rejeitar aqueles que demonstram diferenças com as quais não sei lidar?”. 

A mesma pergunta cabe à escola e às redes de ensino: “Há, de fato, a promoção do ingresso de todos os alunos na escola?”. “Estamos abrindo as portas para receber os alunos que buscam nossas escolas?”. “Impomos condições de idade, vínculo com a rede de ensino, notas, religião, etc. para que os alunos tenham acesso à escola?” 

Quando impomos condições e restringimos o acesso, negamos um princípio básico da inclusão: educação é direito de todos. Como é possível falar em inclusão ao informar para uma mãe que não poderá fazer a matrícula de seu filho porque sua escola não é o melhor lugar para ele? Como é possível levantar a bandeira da inclusão e dizer para uma senhora que está ansiosa para voltar a estudar que ela não poderá fazê-lo em determinada rede de ensino porque só recebem alunos “da casa”?

Inclusão implica justiça social, garantir o direito de todos à educação. Inclusão confunde-se com democracia. 

Outro princípio da inclusão é a promoção de práticas mais cooperativas e menos competitivas nas salas de aulas e na escola. O professor deve refletir como anda sua prática e a de sua escola sob esse ponto de vista. Há uma proposta de trabalho coletivo e cooperativo? Tem-se incentivado os alunos, a partir do trabalho em sala de aula, a cooperarem uns com os outros? Tem-se fomentado a competição, ressaltando os melhores alunos, mais inteligentes, mais eficientes, mais rápidos, que tiram as melhores notas, etc.? São premiados os alunos nota 10 ou o aluno-estrela?

Quanto às instituições de ensino, é oportuno perguntar se há valorização de atitudes cooperativas no interior das escolas? É oportunizado o trabalho de grupo entre professores? Há espaço e tempo para o desenvolvimento dessas atitudes? 

Antes de profissionais, há seres humanos convivendo na escola, e, como dizia Paulo Freire: “O diretor é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente” (...) “e o importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver (...)”. Além de tudo, só é possível compartilharmos o que possuímos. O professor, e nenhum outro profissional, não trabalha com o que não compreende, não vive, não sente. Se pretendemos ensinar nossos alunos a serem mais cooperativos, precisamos viver essa cooperação.

Estabelecer rotinas na sala de aula e na escola em que todos recebam o apoio necessário para participar de forma igual e plena é outro instrumento eficaz para uma prática inclusiva. Quanto a isso, o professor precisa estar vigilante para questionar como anda sua rotina em sala de aula. 




Sandra Alves da Silva Santiago é mestra em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco, com formação em Pedagogia e especialização em Educação Especial e Psicopedagogia. Desenvolve suas atividades docentes em turma de Alfabetização (Secretaria de Educação de Pernambuco) e de Ensino Médio como professora itinerante (Secretaria de Educação do Recife). Leciona ainda na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) no curso de Pedagogia e atua em diversos cursos de especialização em faculdades do Estado como professora e como orientadora de pesquisas sobre temáticas afins.


Fonte:http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=657

Nenhum comentário:

Postar um comentário