Um das funções da linguagem é a comunicação. Ao se colocar a tarefa de ensinar essa criança, uma das primeiras coisas a fazer é pensar em como com ela se comunicar.
A criança com síndrome de Down apresenta atrasos no desenvolvimento motor e na linguagem, sobretudo expressiva, por causa da hipotonia e da língua protusa. Tais atrasos podem ser bastante minimizados, se a criança passou por um trabalho de estimulação precoce. Mesmo assim, os atrasos na aquisição e uso comunicativo da linguagem perduram e requerem continuidade dos trabalhos de intervenção, com um fonoaudiólogo.
Normalmente, a aquisição da linguagem se faz nos primeiros anos da infância. Aos 5/6 anos, a criança já passou por todas as fases de aquisição da linguagem e se comunica normalmente.
Se você identifica que a criança está na fase de aquisição da linguagem, você pode se propor como objetivos favorecer sua habilidade de comunicar-se usando, para isso, tanto recursos verbais quanto não-verbais.
Fazendo isso, você estará prestando uma grande ajuda à criança: é a partir da linguagem comunicativa, verbal ou não-verbal, que surge a linguagem interior (ou fala interna), fundamental à aquisição de funções mentais superiores semioticamente mediadas (isto é, mediadas pela linguagem) como percepção, atenção, memória, funções importantes no ato de aprender.
Se for preciso, retorne ao Módulo 3 da Unidade 5, onde se discutem as relações entre pensamento e linguagem e essas funções são apresentada.
Quadro 3 _ Como ajudar seu aluno com Síndrome de Down na fase de aquisição de linguagem
• Certifique-se se seu aluno não tem problemas de audição. Esses são problemas comuns em crianças com a Síndrome. De qualquer modo, quando se dirigir a ele, faça-o de forma que ele possa estar de frente para você . Se suspeitar de uma baixa audição, encaminhe-o ao fonoaudiólogo ou ao otorrinolaringologista.
• Preste atenção em como ele se expressa. Os gestos são auxiliares muito importantes para a criança na fase de aquisição da linguagem. Ajude-o a se expressar por meio de gestos, quando não pode fazê-lo verbalmente, ou combinando com gestos, quando seu vocabulário é ainda muito pobre.
• Não se preocupe em corrigir sua fala nessa etapa de aquisição, procure apenas entender o que a criança fala e mostrar para ela que você entendeu. Explicite verbalmente para ela o que ela explicita com a ajuda de gestos, com fala normal e não infantilizada.Isto lhe oferece um modelo verbal e a ajuda a expandir sua própria fala.
• Numa situação de diálogo, espere, Quando for a vez da criança, que ela se manifeste. Ela pode ter dificuldade para processar a informação e, por isso, levar mais tempo para se manifestar. Se você se antecipa e fala por ela, ela aprende que não precisa falar e que o outro sempre fará isso por ela. Incentive-a a se manifestar.
• Observe se ela inicia diálogos, se os sustenta, ou se apenas responde a perguntas que são feitas.
• Investigue a extensão do vocabulário da criança. Converse com a mãe a respeito. Descubra quantas palavras ela conhece. Coloque-se como objetivo ampliar o seu vocabulário. Combine com a mãe o que ela pode fazer em casa para expandir esse vocabulário.
• Observe as situações em que a criança usa as palavras (Horstmeier, 1990:251):
- Para nomear objetos e pessoas?
- Para nomear ações?
- Para cumprimentar pessoas, despedir-se, agradecer, pedir desculpas, isto é, para interagir socialmente e chamar atenção?
- Para descrever objetos e lugares?
- Para se expressar negativamente?
• Nomeie as coisas para as crianças, enquanto elas as estiverem manipulando, e as ações, enquanto ela as estiverem realizando. Por exemplo, pão, suco, copo na hora do lanche, ou lápis, giz, quando os estiverem usando; ou correr, andar, escrever, por ocasião dessas atividades.
• Introduza cantigas infantis nas suas aulas, brincadeiras das quais ela possa desfrutar com outras crianças. Aprende-se mais facilmente as palavras que são ditas nessas situações prazerosas e compartilhadas. Oriente também a mãe nesse sentido, isto é, para ir descrevendo para a criança os acontecimentos, por exemplo, em situações de vida diária (banho, alimentação, passeios etc.)
• Verifique se ela constrói frases e como é a sua sintaxe.
Seu aluno, contudo, pode já ter adquirido a linguagem, mas ter dificuldade para se comunicar, devido à inteligibilidade da fala. Neste caso, sua tarefa será outra: a de ajudar a tornar sua comunicação mais clara.
Você pode repetir para a criança o que ela fala errado, sem corrigi-la ostensivamente. Por exemplo, se ela diz "meio" para vermelho, ao invés de dizer "Não é assim que se fala, é assim, vermelho", diga apenas, "Ah, você está me dizendo que sua bolsa é vermelha! ". Ou se ela lhe pede algo, repita para ela corretamente, oferecendo-lhe o modelo de fala a imitar e peça-lhe para pedir de novo, do jeito que você falou.
As crianças com Síndrome de Down costumam ter problemas com a consciência fonológica _ consciência dos sons dos fonemas. Não exija dela a emissão de sons mais difíceis, se ela não dominou ainda aqueles mais fáceis.
Embora chegue a dominar os fonemas da língua materna isoladamente, devido aos problemas com a consciência fonológica, a criança pode mesclar sons ou omiti-los. Por exemplo, pode dizer "Gano pel ixo." quando quer dizer "Fulano está jogando o papel no lixo".
Seria importante que essa criança estivesse sendo atendida por um fonoaudiólogo e que o trabalho que ele fizesse com a criança pudesse se integrar ao seu e ao da mãe em casa. Ou seja, ele poderia propor uma programação integrada.
Se isso não for possível, de qualquer forma, estimule a criança a falar. De acordo com Hosrstmeier (1990), na faixa escolar as crianças com síndrome de Down estão aprendendo a construir frases, com sentenças curtas e apren dendo os usos sociais da linguagem. Na evolução desses usos, inicialmente a linguagem é utilizada para se conseguir o que se deseja, para chamar atenção e responder a perguntas e pedidos. Posteriormente a criança já descreve eventos e inicia diálogos. A autora sugere que professores, no decorrer de uma atividade que está sendo vivenciada pela criança, a ajudem a descrevê-la (passeios, confecção de receitas, por exemplo).
Você pode ainda estimular seu aluno a contar as novidades do fim de-semana, o que comeu no almoço e assim por diante, de forma que a criança possa conversar sobre situações relativas ao seu cotidiano. Parte desses relatos podem ser transcritos no quadro para, a partir daí também se trabalhar a leitura-escrita, com base em palavras que já são usadas e conhecidas da criança e que foram aprendidas em experiências do seu dia-a-dia, sendo, portanto, significativas para ela.
Você também pode trabalhar com fantoches, que dialogam uns com os outros em histórias curtas, bem pronunciadas. A mesma história pode ser trabalhada em livros com extensão maior de figuras que de texto impresso.
Ou pode, ainda, usar um caderno de atividades. Nesse caderno, a mãe pode colar fotos, figuras, ou fazer desenhos relativos às situações vivenciadas pela criança fora da escola, tais como: passeios, encontros, pessoas queridas, festas etc. A professora e a criança podem, então, conversar a respeito dos eventos ilustrados.
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