sábado, 14 de janeiro de 2012

TEORIA DA MENTE


O termo Teoria da Mente surgiu no final da década de 70, em decorrência de pesquisas na área da cognição animal. A partir dessa época, a psicologia cognitiva ocupou-se do desenvolvimento de modelos explicativos para esse termo e suas aplicações.

A Teoria da Mente significa a capacidade de atribuir estados mentais a outras pessoas e predizer o seu comportamento em função destas atribuições (PREMACK & WOODRUFF, 1978). O termo "Teoria" resulta do fato de que tais estados não são diretamente observáveis, solicitando uma verdadeira "teorização" de quem infere um estado mental em outro indivíduo.

A Teoria da Mente é essencial para o ser humano, uma vez que permite a teorização do estado mental das outras pessoas, o que sentem, o que pensam, quais as suas intenções e como poderão agir.

Isto nos permite modular nossas reações e nosso comportamento social, além de desenvolver nossa empatia frente a sentimentos inferidos nas outras pessoas.

Baron - Cohen (1995) propuseram um modelo para explicar o sistema de leitura da mente. Tal sistema postula quatro mecanismos que interagem para produzir tal leitura: o detector de intencionalidade, o detector de direcionamento do olhar, o mecanismo de atenção compartilhada e o mecanismo de Teoria da Mente.

O mecanismo detector de intencionalidade constitui um aparato perceptivo que interpreta estímulos móveis em termos de desejos e metas. Em paralelo, o detector da direção do olhar é responsável pela detecção da presença e direção do olhar, bem como é o encarregado da interpretação do olhar de alguém que está deliberada e conscientemente vendo (este mecanismo permite a seguinte questão: ela vê aquilo?). Estes dois mecanismos mandam informações para o terceiro mecanismo (mecanismo de atenção compartilhada), o qual se encarrega de criar relações entre o eu, outros agentes e objetos (este mecanismo formula a seguinte questão: eu e você vemos a mesma coisa?). Finalmente, o quarto mecanismo (mecanismo da Teoria da Mente) é o responsável pela união das noções (até então separadas) de atenção, desejo, intenção, crença dentro de um aparato teórico coerente para o entendimento do comportamento em termos mentalistas, isto é, dentro de um contexto de representações.

Nas crianças com autismo, os mecanismos de atenção compartilhada e de Teoria da Mente estariam prejudicados, o que acarretaria prejuízos nas relações sociais e na comunicação. Tais prejuízos ocorrem pelo fato de que o déficit na Teoria da Mente dificulta a compreensão do que as pessoas pensam, sentem e do modo como se comportam. Não conseguindo atribuir estes significados, a criança com autismo não interage com o meio social da mesma forma que as demais crianças.

As observações que realizamos nas escolas que receberam crianças e adolescentes com autismo evidenciaram que, apesar de haver tal prejuízo, estes alunos deram sinais de que a oportunidade de exposição sistemática ao meio social, mediada pela escola, permite o desenvolvimento de algumas competências relativas à Teoria da Mente.

Relato 1*

Beatriz é uma adolescente, transferida de uma escola privada, incluída recentemente em uma escola pública.

Durante o recreio, Beatriz direcionou seu olhar para uma aluna de sua faixa de idade, que se dirigia ao banco próximo a uma das mesas dispostas no pátio, carregando seu lanche. Beatriz aproximou-se para se sentar próximo a ela, quando percebeu que um grupo de outras meninas se aproximava para sentar-se com a tal aluna. Beatriz as observou e decidiu pelo não cumprimento de seu propósito, direcionando-se para outros grupos de colegas.

O que teria feito Beatriz senão inferir do comportamento do grupo de meninas que se aproximava com a intenção de juntar-se à colega que havia se sentado junto à mesa? Para fazer tal inferência, Beatriz detectou que o grupo de meninas compartilhava da mesma intenção que ela e deduziu que não era o momento de sentar-se ali, adiando seu objetivo.

O relato acima tem por objetivo demonstrar que, apesar dos prejuízos apontados nos modelos explicativos dos TGD, é preciso e fundamental oportunizar a estes alunos as experiências promotoras de desenvolvimento das funções mentais e investir, como é próprio da educação, no potencial de cada um destes alunos em nos surpreender.

*FONTE: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar Transtornos Globais do Desenvolvimento

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